O génio burlesco de Jerry Lewis merece ser recordado sobretudo naquele período da sua carreira onde, libertando-se das restrições impostas pelas ideias estéticas de outros autores a quem se encontrava subordinado, decidiu realizar os filmes que interpretava. Se o seu talento interpretativo evolui de forma sistemática e consistente, cujo feliz encontro com o humor irónico e caótico de Frank Tashlin lhe abriu imensas possibilidades para explorar a sua personagem visual, foi no momento em que decidiu ser autor das obras que protagonizou que Jerry Lewis demonstrou a sua arte superior numa década prodigiosa (os anos 60 do século XX) de obras-primas sucessivas: o fascínio de uma mise-en-scène simultaneamente desmedida e delicada que põe a nu toda a superficialidade de modelos, cantoras e manequins em cenário de casa de bonecas em The Ladies Man, de 1961, a espantosa riqueza cromática e a superior elaboração representativa que conduz a uma sátira impiedosa dos preconceitos conservadores da época no irrepetível The Nutty Professor, de 1963, o arrojado tour-de-force interpretativo no exuberante virtuosismo técnico de The Family Jewels, de 1965, e, acima de todos - opinião que vou consolidando à medida que o tempo passa -, essa assombrosa antologia de todos os gags possíveis e imaginários que é The Patsy, de 1964, o mais cruel e certeiro julgamento apontado ao fingimento e aos métodos utilizados pelas fábricas de sonhos, as quais, sob a proteção de apelativos mas odiosos disfarces, mais não fazem no fundo que valorizar e promover a inutilidade e a imensa pobreza da mediocridade. Essencial ainda hoje.