Questionar, pôr em causa conceitos adquiridos: uma regra de oiro que deveria ser seguida sem limites de qualquer espécie e cuja validade é inquestionavelmente absoluta. Trágica e infelizmente, porém, por causa de uma obediência cega aos dogmas estabelecidos, a sua interiorização, apreensão ou utilização são cada vez mais, sobretudo nos tempos hodiernos, diminutas, raríssimas. Quem fica a perder é o conhecimento. Simon Singh, físico de méritos reconhecidos, no seu magnífico Big Bang (que a Gradiva editou no nosso país e Paulo Ivo Cortez Teixeira e José Braga traduziram), põe pertinentemente o dedo na ferida: «A descoberta de Baade não só contribuíra imenso para colmatar uma das principais falhas do modelo do Big Bang, como, o que é mais importante, pusera a descoberto uma fraqueza da astronomia em geral – o hábito de obediência cega. A reputação de Hubble levara os astrónomos a aceitar sem hesitação os valores que ele propusera para as distâncias a Andrómeda e às outras galáxias. Não questionar nem pôr em causa afirmações tão fundamentais, mesmo quando proferidas por autoridades eminentes, é uma das caraterísticas da ciência de fraca qualidade.»