a dignidade da diferença
08 de Setembro de 2012

 

 

«Idealmente, não são as obras que devem agradar aos homens, mas os homens que deveriam tentar estar à altura das obras. Não cabe ao espectador/consumidor escolher a sua obra, mas à obra escolher o seu público, determinando quem é digno dela. Não nos compete julgar Baudelaire ou Malevitch; são eles que nos julgam e que julgam a nossa faculdade de julgamento. A obra, nesta perspectiva, não deve estar ao “serviço” do sujeito que a contempla. Podíamos dizer da arte o que é válido para a ética: estabelece parâmetros, indica onde é que os indivíduos deveriam esforçar-se por chegar – e não o contrário. Uma das funções da arte foi sempre mostrar aos indivíduos um mundo superior, no qual encontrávamos a liberdade e a intensidade cuja ausência se fazia sentir tão cruelmente na vida de todos os dias. A arte deixava entrever modos de vida mais elevados e mais essenciais, tanto na epopeia como na primeira pintura abstrata – e confrontava assim o individuo com o estado do mundo real.»

Anselm Jappe, Sobre a Balsa da Medusa, tradução de José Alfaro

14 de Agosto de 2012

 

 

«O tema deste livro é, em primeiro lugar, a história das noites arrancadas à sucessão normal do trabalho e do descanso: interrupção impercetível, inofensiva, dir-se-á, do curso normal das coisas, onde se prepara, se sonha, se vive já o impossível, a suspensão da ancestral hierarquia que subordina aqueles que estão destinados a trabalhar com as mãos aos que receberam o privilégio do pensamento. Noites de estudo, noites de embriaguez. Dias de trabalho prolongados para ouvir a palavra dos apóstolos ou a lição dos educadores do povo, para aprender, sonhar, debater ou escrever. Manhãs de domingo antecipadas para irmos junto para o campo surpreender o nascer do dia. Dessas loucuras, alguns sair-se-ão bem: acabarão empresários ou senadores vitalícios – não necessariamente traidores. Outros morrerão delas: suicídio das aspirações impossíveis, definhamento das revoluções assassinadas, tísica dos exílios nas brumas do Norte, pestes desse Egito onde se procurava a Mulher-Messias, malária do Texas onde se ia construir Icária. A maioria passará a vida nesse anonimato, de onde por vezes emerge o nome de um poeta operário ou do dirigente de uma greve, do organizador de uma efémera associação ou do redator de um jornal logo desaparecido.»

Jacques Rancière in A noite dos proletários (prólogo)

publicado por adignidadedadiferenca às 00:28 link do post
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