O regresso da singer-songwriter Annie Clark (St. Vincent) – após a feliz colaboração com David Byrne – confirma aquilo que já suspeitávamos há bastante tempo: actualmente, ninguém melhor do que ela consegue, sem perder a unidade no espaço próprio de uma canção, conjugar superiormente a acessibilidade do imediatismo pop com arrojados devaneios experimentalistas, aptos a empurrar um pouco mais para lá as previamente definidas fronteiras tradicionais da música popular contemporânea. Simultaneamente luminoso, romântico e suavemente esquizofrénico, a excelência de St. Vincent resulta do amadurecimento natural de uma artista de excepção, cuja personalidade e domínio autoral lhe permite devorar as suas múltiplas e, por vezes, inesperadas influências – do metal à erudição clássica, pisando o funk, o glam ou a world music -, organizando, dispondo e construindo a matéria musical sob uma elástica e vibrante arquitectura sonora, filtrada por uma cultura digital, capaz de, nos momentos de maior inspiração, decifrar e resolver enigmas ou vencer labirintos formais aparentemente sem solução à vista, enriquecendo e ampliando um universo narrativo convencional, preenchido com memórias, conversas e histórias comuns. Directamente para a lista dos melhores do ano.