a dignidade da diferença
04 de Setembro de 2018

 

anna calvi hunter.jpg

 

Há um bom par de anos que venho consolidando a ideia segundo a qual a qualidade média das gravações de música escrita e interpretada pelas mulheres é significativamente superior à dos seus pares masculinos. As provas mais convincentes vão-se semeando por aí, ano após ano, destacando-se os nomes de Annie Clarke/St.Vincent, Shara Worden/My Brightest Diamond, Regina Spektor, Neko Case, Alela Diane, Björk, PJ Harvey, Julia Holter, Laura Marling, Sharon Van Etten, Anna Meredith, Anna Calvi, Jesca Hoop, Nina Nastasia e as Goat Girl. Não sendo fácil, por seu turno, encontrar uma explicação para o sucedido, julgo que ela não andará muito longe da circunstância de as mulheres necessitarem de uma maior afirmação para se conseguirem impor num universo musical pop/rock predominantemente masculino, aparecendo apenas quando sentem que têm algo importante para dizer. O mais recente testemunho surge agora na voz de Anna Calvi. Corajoso manifesto feminista e queer, “Hunter”, num gesto mais urgente e imediato, liberta-se um pouco do universo cinemático mais elaborado dos discos anteriores, mantém a sedução da voz operática da cantora e explora o panorama sombrio das visões de David Lynch, pela via musical de Angelo Badalamenti, bem como a ambiguidade musical/sexual reconhecida em David Bowie. Tenso, eléctrico e linear, mas também elegante e intimista, “Hunter” é um magnífico objecto de desejo, belo e selvagem, representando um conjunto expressivo de ideias em vez de uma mera sucessão mais ou menos articulada de acordes, conforme pretendia justamente a sua autora.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:38 link do post
13 de Outubro de 2013

 

 

Uma boa versão de uma canção não necessita obrigatoriamente de ter um conceito teórico a sustentá-la. Podemos, porém, conduzir as praticamente inesgotáveis formas de reinterpretar uma canção a estas três ideias-chave: a mera cópia, assente numa atitude excessivamente cerimoniosa perante as sagradas escrituras, a qual acaba consumida pela sua absoluta inutilidade; a releitura personalizada (mais ou menos conseguida) que, sem abalar significativamente o espírito inicial da canção, traz novos elementos para o corpo desta, materializando-se numa reconfiguração da sua matriz original; e, por fim, a pura iconoclastia, cujos resultados se traduzem numa apropriação total do objeto reinterpretado.

 

 

Considerações teóricas à parte, na medida em que, em última análise, acaba por ser no plano prático que nos apercebemos verdadeiramente da qualidade (ou da falta dela) de uma versão, começo este novo capítulo apresentando a reinterpretação de Jezebel, a cargo de Anna Calvi (de quem, a propósito, acaba de chegar um novíssimo e esplêndido álbum). Podemos, deste modo, comparar a sua versão com a hiperclássica leitura nas mãos (e na voz) de Edith Piaf, talvez a mais conhecida das muitas gravações desta peça musical. Sem demolir nem fazer esquecer os méritos da leitura de Piaf, Anna Calvi acrescenta-lhe uma energia porventura superior e uma mise-en-scène operática que não existia na versão anterior. Uma reconfiguração exemplar.

 

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 20:47 link do post
10 de Janeiro de 2011

 

 

E, enquanto esperamos pelo disco de estreia que aí vem, deixemo-nos ficar com as formidáveis, operáticas, memoráveis e devastadoras labaredas sonoras que incendiaram literalmente o espaço musical de PJ Harvey, Patti Smith, Leonard Cohen, Ennio Morricone e Edith Piaf. Das (poucas) revelações recentes, esta promete ser a mais assombrosa, responsável por dependências e contágios imediatos...

 

publicado por adignidadedadiferenca às 22:54 link do post
08 de Janeiro de 2011

 

 

Como consequência natural da renovação musical, surgem, regularmente, novos autores que pela consistência da sua dieta musical vão despertando a nossa curiosidade de melómanos convictos. A mais recente coqueluche da música indie é a inglesa Anna Calvi e merece, aparentemente, todos os elogios que lhe são destinados. Ocupa o lugar vago anteriormente ocupado por Patti Smith e toma de empréstimo o talento teatral de PJ Harvey. Com uma voz vibrante e notável presença em palco - assentando o seu discurso em farrapos sedutores de pop/rock anguloso, nocturno, corroído por melodias esqueléticas e infecto-contagiosas, de semblante carregado e magnificamente encenado -, Anna Calvi desbrava e incendeia, com agilidade e deixando profundas marcas da sua personalidade, os territórios estéticos, poéticos e sonoros de autores como Cohen ou Piaf. Feitas as apresentações, venha daí o disco e com ele as labaredas sonoras.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 13:13 link do post
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