Acompanhando a sua louvável exibição nas salas de cinema, a Lusomundo acabou de editar, em DVD, as melhores obras, e estou a medir bem as palavras, do cinema português da primeira metade do século XX. Trata-se de Douro, Faina Fluvial (de 1931) e de Aniki Bóbó (de 1942), ambos realizados por Manoel de Oliveira. Se o cinema português, com as honrosas excepções de João César Monteiro e de Pedro Costa, raramente ultrapassou a mediania ou teve relevância estética suficiente para transcender o rotineiro fado nacional, a verdade é que, naquele tempo, com Manoel de Oliveira, não foi assim. O cinema português, ou melhor, este cinema português, estava sintonizado esteticamente com o que se fazia lá fora, respirava o ar da aventura e da modernidade. Dinâmico, vibrante, aprofundando a técnica da montagem e desenvolvendo o conceito de sinfonia da cidade, Douro, Faina Fluvial, na sua modernidade mostrava já tanto em curtos vinte minutos. Aniki Bóbó era diferente mas igualmente magnífico, verdadeira assombração num mundo poético de crianças, com histórias de medos e de desejos para adultos. Um realismo poético que não deixou descendência mas dele ficou o cunho da originalidade, da laboriosa mise-en-scène e do talento emergente de um cineasta que, no futuro, assinaria uma obra desigual e incompreendida, iluminada, porém, aqui e ali, por chispas de génio.