a dignidade da diferença
13 de Julho de 2013

 

 

Há qualquer coisa de novo no fado tradicional de Gisela João. Não é bem o timbre da sua voz pois este identifica-se bastante com o da voz de Amália, embora já impressionem a forma inesperada como Gisela João se serve da força bruta das cordas vocais e o modo como jorram as emoções à flor da pele. A escolha do reportório também não surpreende, visto que Gisela opta por um conjunto bastante fiel ao fado clássico. Porém, a sua fidelidade à tradição fica-se por aí dado que já é francamente invulgar a eficácia com que a cantora se apropria dos fados escolhidos; atira-se aos seus órgãos vitais, reduz a matéria musical ao essencial e apenas permite que os seus ouvintes escutem a batida do coração, o sopro desmedido da alma à beira do abismo e a gramática singular das malhas quase folk/rock das guitarras. Uma estreia promissora, magnífica e apta a ficar gravada na nossa memória. Um sinal, em suma, do bom momento que o fado atravessa, como testemunha ainda o mais recente trabalho de Pedro Moutinho, O Amor Não Pode Esperar.

 

 

12 de Julho de 2012

 

Reedição (para já, parcial) da obra de José Afonso. Sinais inequívocos de inconformismo e evolução estética, compromisso político (pontualmente excessivo e algo datado), escrita poética, surrealismo e uma ironia do mais fino recorte técnico. Trata-se, no fundo, de uma renovada e plena demonstração da sua capacidade vocal e intuição melódica, de uma visão artística sem fronteiras e, sobretudo após o extraordinário golpe de asa iniciado com o genial Cantigas do Maio (enriquecido pela cumplicidade e pelos soberbos arranjos musicais de José Mário Branco) - cujo contributo para a história da música portuguesa apenas será igualado, naquela época, pela personalidade e matriz individual das obras iniciais de Carlos Paredes, José Mário Branco e Sérgio Godinho ou pela sublime Amália do período Alain Oulman -, um magistral e absolutamente perfeito domínio das características fundamentais e da estrutura formal de uma canção. Venha agora o resto da obra, correspondente à fase mais afirmativa e genial da sua carreira, da qual merece particular destaque a perfeição de Venham Mais Cinco e o menos valorizado mas não menos inventivo Como Se Fora Seu Filho.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

10 de Fevereiro de 2011

 

Se Busto resgatou o fado da sua condição local e lhe deu uma projecção universal, é, porém, no sublime Com Que Voz, gravado em 1970, que Amália atinge o pico das suas capacidades artísticas. Associado aos dois álbuns está o génio intelectual de Alain Oulman, determinante para que o fado de Amália Rodrigues atingisse esta nova dimensão. Com Que Voz - continuação da colaboração entre Amália e Oulman, iniciada com o magnífico Busto (1962) - é, na realidade, o álbum mais conseguido da fadista, o ponto em que o trabalho de ambos atingiu a plena maturidade musical. Já não é só a dor que comanda a voz, mas, sobretudo, a visão poética do canto, o requinte cultural, a extraordinária amplitude vocal, melódica e harmónica; parece existir, em suma, uma anunciada perfeição estética e formal, como se a voz de Amália estivesse sempre à espera destes textos e destas melodias para atingir a sua máxima expressividade. 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 22:48 link do post
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