A elevadíssima percentagem de chumbos no exame da Ordem dos Advogados (quase 60 %), que se realizou no final do estágio de acesso à profissão de advogado, é obviamente preocupante, mas não me surpreende. De facto, sem prejuízo da estratégia de fundo adotada pela Ordem e defendida pelo seu Bastonário - cuja essência assenta na polémica e prematura eliminação do maior número possível de candidatos ao exercício da respetiva profissão, na prossecução de um objetivo que poderá eventualmente estar relacionado com o desejável afastamento de potenciais concorrentes dos seus atuais associados -, parece-me evidente que à menor duração do curso [que passou de cinco para quatro anos e, nalgumas universidades, para três (!!!) anos] terá que corresponder uma menor preparação dos alunos. Se àquela acrescentarmos outras causas como, por exemplo, a eliminação das orais obrigatórias, o menor grau de exigência, o laxismo de alguns professores, a facilidade em copiar nos exames ou a substituição da leitura dos manuais pela leitura de resumos elementares da matéria dada, não será difícil concluir que os resultados obtidos estão dentro das previsões mais realistas. Pergunto, ainda assim, se a Ordem não poderá corrigir, até ao exame final, na medida em que a formação dada no estágio ocorre durante um período de dois anos, alguma impreparação dos seus estagiários e (alguns) futuros associados? E, já agora, atendendo a alguns murmúrios que se escutaram aqui e ali, será que o tipo de exame feito é o mais adequado para se apurar os conhecimentos e a preparação dos examinados com vista à prática futura?