a dignidade da diferença
05 de Dezembro de 2013

 

 

«Na sua vida, cada homem tem duas obrigações – deveres para com a família, os pais, a mulher e os filhos; e uma obrigação para com o seu povo, a sua comunidade, o seu país. Numa sociedade civilizada e humana, cada homem tem a oportunidade de cumprir esses deveres de acordo com as suas inclinações e capacidades. Mas, num país como a África do Sul, era quase impossível para um homem da minha proveniência e cor desempenhar essas obrigações. Na África do Sul, um homem de cor que tentasse viver como um ser humano era punido e isolado. Na África do Sul, um homem que tentasse cumprir o seu dever para com o seu povo era inevitavelmente arrancado à sua família e ao seu lar e obrigado a viver uma vida à parte, uma existência crepuscular de clandestinidade e rebelião.»

Nelson Mandela, Longo Caminho Para a liberdade.

22 de Fevereiro de 2013

 

 

A carreira musical de Kevin Ayers atingiu o seu primeiro ponto culminante na magnífica aventura sonora prog-psicadélica, com a cumplicidade dos seus compagnons de route (Robert Wyatt e Mike Ratledge, sobretudo) dos dois álbuns iniciais dos Soft Machine. Substituindo a costela progressiva por uma excentricidade razoavelmente esquizofrénica, Kevin Ayers acrescentou à sua paleta sonora, na viragem da década de 60 para a década de 70 do século XX (os formidáveis Joy Of A Toy, Shooting At The Moon, Whatevershebringswesing e Bananamour), idílicos e desorganizados experimentalismos de salão elaborados em imaginativos cenários surreais, cuja música tocante e assaz peculiar sai enriquecida com uma aparência deliciosamente fora de moda. A criatividade de Ayers escondeu-se, porém, excessivamente durante as décadas de oitenta e noventa, regressando, contudo, de forma surpreendente na gravação do último e magnífico The Unfairground (de 2007), recuperando as ainda intactas pequenas fragâncias reconhecidamente fora de época, balizadas por uma espessura musical intencionalmente fake e distribuída engenhosamente em doses equilibradas de divertimento, cavalheirismo, angústia, sonho e melodias de salão nobre. Soubemos na última segunda-feira que não escutaremos mais a sua voz.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:25 link do post
20 de Outubro de 2012

 

 

Com a morte de Manuel António Pina (1943-2012), o edifício da poesia portuguesa perdeu um dos seus alicerces mais sólidos, valiosos e profundos. Manuel António Pina foi autor de uma obra assaz escassa que foi melhorando com a idade, cuja escrita fina sintetizou admiravelmente a sua posição desencantada sobre o mundo, o prazer na construção de jogos de palavras labirínticos - que procurava ajudar depois a decifrar -, o seu olhar reflexivo, inquiridor e melancólico sobre as pessoas e o espaço que as rodeia, e uma permanente oposição entre conhecimento e esquecimento, não raras vezes esculpida em talhadas de humor e inconformismo. Em suma, uma criação literária densa, de assinalável inquietação e sobriedade, irreverente, telúrica, incómoda, terrível até, sobretudo quando se confronta com a doença e o inevitável envelhecimento; a qual se expandiu numa forma ímpar e inventiva de descrever o mundo, justamente premiada com o Prémio Camões, cuja substância e riqueza estilística mereciam mais que um pequeno texto incapaz de o homenagear satisfatoriamente.

 

 

 

O Regresso

 

Como quem, vindo de países distantes fora de

si, chega finalmente aonde sempre esteve

e encontra tudo no seu lugar,

o passado no passado, o presente no presente,

assim chega o viajante à tardia idade

em que se confundem ele e o caminho.

 

Entra então pela primeira vez na sua casa

e deita-se pela primeira vez na sua cama.

Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,

cidades, estações do ano.

E como agora por fim um pão primeiro

sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 11:44 link do post
18 de Janeiro de 2012

 

 

Fazemos aqui um pequeno intermezzo à interrupção anteriormente anunciada para homenagear um dos mais conhecidos e dos maiores intérpretes de J. S. Bach , o holandês Gustav Leonhardt, que morreu esta semana com 83 anos de idade. Fazêmo-lo através deste excerto de um dos mais célebres filmes de Jean-Marie Straub e de Danièle Huillet, o magnífico Crónica de Anna Magdalena Bach, para o qual Gustav Leonhard contribuiu ao representar - ninguém seria, de facto, mais adequado - o papel do genial compositor. A ideia foi roubada descaradamente daqui.

 

01 de Fevereiro de 2011

  

 

John Barry foi um dos raríssimos genuínos criadores de música para cinema – a par de Ennio Morricone, Bernard Herrmann e poucos mais -, responsável por pequenos desvios estéticos no género que resultaram num respeitável grupo de admiradores confessos como foi o caso, por exemplo, dos Specials, de Fred Frith ou dos Portishead do genial Dummy. A visão estética do emblemático compositor era a coordenação quase perfeita, através da exploração laboratorial, de elementos aparentemente paradoxais: a ressonância timbríca dos estúdios da EMI, a aventura electrónica, os devaneios do easy listening, a concisão minimalista, a erudição bebida em Boulez e Stockhausen, as impurezas da pop ou o aroma do jazz. E se ultimamente a sua música foi ao encontro de um conceito francamente mais conservador e mainstream - que não será muito do nosso agrado – a verdade é que, inicialmente, ela era suficientemente agreste, vibrante e magnífica para reservar a John Barry um merecido lugar na história. 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 20:37 link do post
19 de Dezembro de 2010

 

 

Don Van Vliet, aliás Captain Beefheart (15/01/1941 – 17/12/2010), foi um dos maiores músicos contemporâneos mas em quem pouca gente, contudo, reparou. Foi autor de uma obra admirável, revolucionária e excêntrica. Com Safe As Milk e Trout Mask Replica, influenciou o punk e subverteu o rock; com uma particular acidez, colou o blues ao free-jazz, sem se esquecer de, pelo caminho, apanhar os ossos quebrados do psicadelismo. Captain Beefheart reorganizou todos estes elementos, questionou regras, improvisou sobre instrumentos em vibrante delírio, projectou a sua visão para uma dimensão única e superior, e, depois do manual escrito, registou a patente de uma poética da convulsão. Puro génio.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 01:27 link do post
07 de Março de 2010

 

Mark Linkous, líder dos óptimos e esquecidos Sparklehorse, suicidou-se ontem (sábado) com, segundo consta, cerca de 40 anos de idade. Mais uma perda lamentável de um músico (muito) estimável.

 

 

Sparklehorse: Apple Bed

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:56 link do post
27 de Setembro de 2008

 

The Hustler

 

 

Apetecia-me mesmo era ficar em silêncio, mas vou recordar o Paul Newman actor que mais gosto - a obra-prima de Robert Rossen «The Hustler» - e o Paul Newman realizador mais memorável.

O que criou a belíssima adaptação de Tenessee Williams «The Glass Menagerie».

 

The Hustler

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:40 link do post
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