Samuel Asch, estudante universitário, desiste, após ser abandonado pela namorada, da sua pesquisa universitária – uma tese sobre a evolução da figura de Jesus na perspectiva dos judeus. Sem casa nem emprego, o protagonista do romance aceita o convite para cuidar de Gershom Wald, um septuagenário inválido, numa casa partilhada com Atalia Abravanel, uma mulher ambígua e estranha, mas plena de sensualidade. O interesse de Asch por Atalia e a companhia do velho Gershom Wald são o pretexto para a introdução de uma série de querelas filosóficas e religiosas ou revelações históricas sobre o processo de formação e transformação de Israel: a sua evolução, os conflitos, a violência e o reflexo das cicatrizes do passado; culminando numa interpretação muito peculiar que subverte a imagem do Judas que conhecemos da Bíblia, apresentando-o como o mais leal dos discípulos. Movimentando-se com desenvoltura entre o romance e o ensaio, num ritmo seco e cadenciado, a prosa áspera do escritor israelita, feita sobretudo de observação e pensamento, aperfeiçoada por uma escrita simultaneamente fina e descarnada que a sua vasta experiência lhe confere (texto depurado, quase só osso), desagua numa magnífica, erudita - pois também se aprende neste livro sobre história, política ou religião - e provocante obra sobre a condição humana, especialmente sobre a condição de ser judeu.