«Poesia Ilustrada», esculpida nos intervalos do silêncio, encontrava na justa medida de uma frase, no murmúrio de um verso, a silhueta do seu perfil melancólico, refugiado entre gestos de ternura e movimentos de uma serena amargura, perdurando uma fortíssima relação com a natureza, fixando, nas paisagens agridoces que habitam a gramática dos poemas, as emoções, os desejos e as confissões sussurradas pela autora, compilados num esboço rejuvenescido do seu universo real de memórias, cores e pequenas sombras. A poesia de Maria Sousa prossegue com «Não Abras a Porta a Estranhos» - estojo de poemas curtos encaixados uns nos outros ou albergue de um poema contínuo - evoluindo de uma silhueta melancólica para um perfil mais hipnótico. A forma apurou-se, os poemas têm um compasso próprio e tornaram-se mais coesos e concisos. A solidão que já se sentia anteriormente num vislumbre conta-se agora a partir de casa, a casa que a autora evoca através do seu passado e das suas memórias, mas não só; a ausência, o silêncio e o vazio sentem-se no contacto físico com portas, janelas, armários, corredores ou quartos. Na força e nos múltiplos significados do (s) poema (s) pressente-se a escuridão e o abandono que nos aperta, mas esse pesar é equilibrado e estende-se amiúde pelo calor e apego dos cigarros, o contacto do telefone, a leitura das cartas, o badalar do relógio ou o reflexo dos espelhos. Vive-se naquela casa e a solidão que a ocupa fere-nos, mas também nos prende pela força deste belíssimo livro de poesia.