Estreia esta semana The Immigrant - retrato de uma imigrante polaca que desembarca na Nova Iorque dos anos 20 do século XX, consumida por uma realidade bem longe do sonho americano que nos quiseram impingir -, o último e extraordinário filme do mais fascinante cineasta norte-americano da actualidade, James Gray. O filme revela as características já conhecidas do universo do autor - as personagens perturbadas, atormentadas e desesperadas, a exploração de um conceito muito peculiar de família - devidamente enquadradas por uma visão poética e emocional que, neste filme, atinge o cume do dramatismo, da culpa e da redenção. Uma visão comovente, mais contida, porventura, cujos protagonistas caminham, progressiva e paradoxalmente, à beira da explosão. Porém, não é apenas o filme que quero destacar. James Gray, na entrevista concedida ao semanário Expresso - conduzida por Francisco Ferreira -, deixou aos seus leitores ampla matéria para reflexão. Como esta ideia, por exemplo: «Eu sempre digo isto: temos que dar ao espectador o que ele precisa, não o que ele quer, porque dar-lhe o que ele quer é ser demagógico e assinar a maior das cobardias.» Um aviso que bem podia atingir, entre outros, os ideólogos da nossa televisão pública.