a dignidade da diferença
11 de Outubro de 2016

 

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A palavra “família” banalizou-se de tal forma no nosso dia-a-dia, tão corrente é na literatura, seja ela erudita ou popular, que temos dificuldade em recensear todas as suas ocorrências. Esta polissemia constitui, sem dúvida, um bom testemunho das mutações que ao longo da história sofreu a instituição que o termo denomina. A palavra latina, “familia”, aparece em Roma como derivada de “famulus” (servidor), mas não se aplicava então ao que habitualmente entendemos pelo termo. «Designava-se por familia o conjunto dos escravos e servidores vivendo sob um mesmo tecto (…); depois, toda a “casa” - senhor, por um lado, mulheres, filhos e servidores vivendo sob o seu domínio, por outro (…). Depois, por extensão de sentido, “familia” passou a designar os “agnati” e os ”cognati”, tornando-se, pelo menos na linguagem corrente, sinónimo de “gens”» (…) “Casa”, conjunto dos indivíduos que vivem sob o mesmo tecto; ”gens”, comunidade formada por todos os descendentes de um mesmo antepassado; “agnati”, os parentes paternos; “cognati”, os maternos e, por extensão, o conjunto dos consanguíneos – todas estas unidades parentais reunimo-las nós hoje sob o vocábulo “família”. Acontece, porém, que cada um destes círculos de pertença apresenta extensões variáveis consoante o lugar e a época, os grupos sociais e as circunstâncias. Da multiplicidade de formas e designações que tais entidades sociais assumem, transformando-se e perdurando nas grandes civilizações ocidentais e orientais, dão-nos conta os textos incluídos na presente obra. Se outros não houvesse, esses testemunhos bastariam para nos convencer de que sempre e em toda a parte existiram agrupamentos familiares sob variadíssimas formas, podendo este ou aquele assumir um papel mais ou menos fundamental na organização das leis orais e escritas que governam, ou governaram, as sociedades em questão.

Françoise Zonabend, in «História da Família»

Muito bem! Embora nos dias de hoje e na sociedade em que vivemos cada vez mais o conceito de família está desmaterializado. Fica a pergunta há uma crise de valores ou os valores estão em crise???
Jacinta Couvinha a 11 de Outubro de 2016 às 21:28
Não me parece que a crise de valores ou os valores em crise relevem para este efeito. O que sucede, talvez, à semelhança daquilo que acontece às convenções sociais, é que o conceito de família está em permanente mutação. Não sei se para melhor ou pior. Essa pergunta acompanhou sempre as modificações que foram ocorrendo. Diferente, com certeza.
Parece-me que existe uma grande crise de valores e esta deficiência contribui e muito para os conceitos construídos na sociedade em que vivemos e onde se inserem as famílias. Eu gostava mais da união familiar e das suas vivências na minha infância. Esses valores que me transmitiram foram o pilar principal para a constituição da minha família e o que transmiti às minhas filhas. Confesso no entanto que os laços não são tão sólidos conforme os vivi. Enfim resultado dos novos tempos. Como será daqui a 20 ou 30 anos nas gerações vindouras? Os laços são cada vez mais largos e qualquer dia desapertam-se na totalidade. Onde fica a família???
Jacinta Couvinha a 12 de Outubro de 2016 às 00:15
Não consigo vislumbrar uma ligação directa entre as mudanças que foram ocorrendo na instituição familiar e a perda de valores. Algumas das mudanças mais recentes no conceito de família derivam dos casais homossexuais e da sua possibilidade de adopção. Existe, nestes casos, alguma crise de valores? As mães solteiras, por outro lado, terão menos afecto pelos filhos? Nas famílias tradicionais escondem-se, muitas vezes, casos de violência doméstica ou abuso de menores. Um último exemplo: a Mafia confere uma importância inequívoca ao conceito tradicional de família. Não será, contudo, um bom exemplo de uma «comunidade» com os valores em alta…
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