Algo esquecido nas retrospectivas oficiais do cinema italiano, Valerio Zurlini, pertencendo à mesma família estética de Jacques Becker e Nicholas Ray - autores que, como deles já se escreveu um dia, da câmara quiseram fazer música de câmara -, merece, contudo, figurar entre os maiores (Visconti, Rossellini, Fellini, Antonioni, Pasolini). Embora a sua escassa obra (oito filmes) pouco ajude, não se compreende ainda assim como terá escapado a tantos cinéfilos a importância e a excelência de filmes tão sublimes quanto "Estate Violenta" (1959), "La Ragazza Con La Valigia" (1961), "Cronaca Familiare" (1962), o derradeiro "Il Deserto Dei Tartari" (1976) - feliz adaptação do romance homónimo de Dino Buzzati - e, sobretudo, "La Prima Notte Di Quiete" (1972). Com efeito, raros foram os cineastas que conseguiram filmar planos tão belos e despojados, utilizando simultaneamente tão intensa e tocante carpintaria dramática para partilhar a cumplicidade dos pequenos gestos de amizade ou as relações, a emotividade e a desesperada poesia da solidão extrema de um par de protagonistas inadaptados, à procura de encontrar o seu lugar enquanto são arrastados - ou se deixam atrair - para o isolamento.