Desenhada aparentemente nos intervalos do silêncio, a poesia ilustrada de Maria Sousa encontra na justa medida de uma frase, no murmúrio de um verso, a silhueta do seu perfil melancólico, refugiado entre gestos de ternura e movimentos de uma serena amargura. No segundo livro da poetisa (emoldurado por uma deliciosa capa retro e descodificado pelo prefácio de Pedro Santo Tirso, os quais não deverão ser menosprezados) perdura uma fortíssima relação com a natureza - cujo cheiro a terra, a que o vento, o frio e a chuva deram voz, se assemelha ao sentido poético de I Know Where I’m Going, esse extraordinário e mítico filme da dupla Powell/Pressburger -, fixando, nas paisagens agridoces que habitam a gramática dos poemas, as emoções, os desejos e as confissões sussurradas pela autora, compilados num esboço rejuvenescido do seu universo real de memórias, cores e pequenas sombras. Uma belíssima maneira de enganar as rugas do tempo.