a dignidade da diferença
30 de Janeiro de 2011

 

 

Lisbon Underground Music Ensemble (LUME) - Uma fantástica Big Band de jazz portuguesa, dirigida por Marco Barroso, que - como afirmou acertadamente Rui Eduardo Pais –  explora como poucos o conceito de pós-contemporaneidade (actualmente não me lembro de outra, com excepção da explosiva Flat Earth Society): fabuloso caldeirão musical onde cabe uma imensidão de alimentos sonoros, desde a história concisa do jazz (sobretudo a das Big Band),  passando pela loucura visionária de Carl Stalling, por uma noção cinemática da estrutura musical, pelo corte-e-costura dos Naked City, pela electrónica ou pelo swing moderno, culminando num torrencial caleidoscópio de camadas musicais sobrepostas. Assinaram um trabalho magnífico e incendiário em 2010 e não vos resta fazer outra coisa senão escutá-lo. 

 

 

Ver também aqui.

11 de Janeiro de 2011

 

 

E enquanto não chegam as vibrações eléctricas de Anna Calvi, outra mulher ocupou definitivamente o espaço musical contemporâneo; trata-se de Esperanza Spalding e transporta consigo uma obra-prima: Chamber Music Society. A jovem compositora surpreende pela profundidade do reportório, escolhe o jazz minimalista, de câmara, como principal fonte musical, acolhe o espírito da sublime Rickie Lee Jones de Pop Pop, viaja por paisagens impressionistas e sem fronteiras, e convive naturalmente com a brisa e as especiarias da tradição sul-americana, com as polifonias barrocas africanas ou com a música para cinema. Esperanza Spalding eleva, através do superior exercício de subtracção sonora (admirável subsecção de cordas), um subtil, expressivo e contido modernismo multicolor à condição de paradigma estético. Um disco único e irrepetível.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:56 link do post
24 de Dezembro de 2010

 

 

A ECM, que tem vindo a correr o risco de cristalizar o seu traje musical, editou recentemente The Rub and Spare Change, de Michael Formanek, belíssimo disco de jazz que, sem se desviar do figurino estético que a marcou, alarga os seus horizontes num puzzle sonoro que procura o equilíbrio perfeito entre arrojo, inovação e complexidade, o qual actua como contraponto de uma outra matriz mais serena, discreta, simples, melódica e sedutora. Consegue-o num gesto magnífico que foge exemplarmente ao bolorento, formatado e bem-educado mainstream agitando o espaço habitualmente ocupado por ouvidos mais exigentes que se deixam envolver pela criatividade e diversidade arquitectónica destes exercícios formais vibrantes, quentes, estruturalmente sinuosos e elásticos, onde brilha a complexidade mas nunca chega a inacessibilidade.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 01:13 link do post
09 de Outubro de 2010

 

 

Eric Dolphy foi um dos maiores e mais originais músicos de jazz surgidos nos anos 60 do século XX. Autor de uma música nova, imaginativa, profunda e intensamente livre, Dolphy marcou a cena jazz em gravações históricas com Charles Mingus e John Coltrane, entre outros, ficando na nossa memória sobretudo o genial e inclassificável Out of Lunch, disco de ruptura e paradigma de um lirismo radical, imprevisível e exuberante.

O quarteto Empirical decidiu homenagear Dolphy com a gravação de Out ‘n‘ In, magnífico na forma como os músicos interiorizaram a visão furiosamente livre e autêntica das composições de Dolphy, fugindo sabiamente à habitual tendência para o mimetismo estético, colocando todo o savoir-faire instrumental ao serviço das ideias e da substância musical - o que só acontece, regra geral, com os grande músicos. Directamente para a lista dos melhores do ano.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 13:36 link do post
29 de Março de 2010

 

John Coltrane: My Favorite Things (1961)

 


 

Pouco ou nada há para dizer sobre uma obra tão falada, citada e idolatrada. Um disco raro semeado de improvisação, lirismo e poesia projectados numa caixa de música singular e livremente arquitectada por um Coltrane majestoso e falsamente amansado. 1961 foi o ano da obra e graça do Senhor… Directamente para a lista dos melhores de sempre.

 


publicado por adignidadedadiferenca às 23:03 link do post
06 de Setembro de 2009

 

Mais uma notável gravação de um clássico que contribuiu para definir o som Blue Note, produzido pelo lendário Alfred Lion com a participação activa de Rudy Van Gelder como engenheiro de som.

Acompanhado, durante o mês de Abril de 1967, por uma excelente secção rítmica formada por Stanley Turrentine, Major Holley, Jr , Bill English e Ray Barretto, Kenny Burrell inventa com a sua guitarra e as suas ideias, uma música falsamente morna, viciante e marcadamente bluesy, temperada por uma ágil batida africana e pelos belíssimos desenhos melódicos do saxofone tenor.

Burrell gravou outros álbuns de elevada qualidade, mas foi Midnight Blue que lhe trouxe a popularidade e lhe deu prestígio entre os amantes do jazz e da música em geral.

 

Chitlins Con Carne

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:52 link do post
18 de Agosto de 2009

 

 

So What

publicado por adignidadedadiferenca às 22:27 link do post
01 de Março de 2009

 

Monk Alone: The Complete Columbia Solo Studio Recordings 1962-1968 - Thelonious Monk

 

 

 

 

Conjunto de tudo o que Thelonious Monk gravou a solo como pianista para a Columbia, este disco acaba por ser a reunião das peças que o produtor Teo Macero costumava intercalar na obra do quarteto de Monk, com os temas que o músico norte-amerciano gravou originalmente em Solo Monk.

É verdade que Monk como pianista nem sempre foi devidamente apreciado, mas estas gravações acabam por lhe fazer inteira justiça.

Se as composições do próprio são, como se sempre se espera dele, absolutamente irrepreensíveis e irresistivelmente swingantes, o facto mais marcante desta obra única é a magnífica apropriação que Monk faz do reportório alheio, resgatando-o aos seus autores e interpretando-o como se o mesmo tivesse sido sempre seu.

Consegue fazê-lo através de um olhar notoriamente pessoal que faz transparecer em todas as peças uma unidade inventiva, consistente e absolutamente singular.

 

Um disco muito belo e raro, e um marco – muitas vezes esquecido - na história da música afro-americana.

 

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 20:45 link do post
05 de Outubro de 2008

 

Para afugentar de vez a rainha do soft-jazz como música de fundo para acompanhar um cocktail ou, se quiserem, dito de outra forma, a criadora do género musical «beijinhos e abraços»: Diana Krall.

Já nem falo das cantoras de bar de hotel, porque essas não merecem figurar aqui.

 

 

 

Black Orpheus

 

publicado por adignidadedadiferenca às 01:54 link do post
15 de Agosto de 2008

 

Based on a true story - Fat Freddys Drop (2005)

 

 

 

A globalização sob o ponto de vista musical no que ela tem de mais positivo. A proximidade territorial entre os vários continentes. No caso em apreço, por força da visão que uma banda de jazz de Wellington tem do reggae, assistimos à irmandade entre a Jamaica e a Nova Zelãndia. No fundo, breves descrições de um conceito musical que merece ficar registado por isto: Bob Marley, Burning Spear, Ras Michael e outros nomes clássicos do reggae brilham de novo, revistos pela luz do século XXI, graças a um septeto que aborda uma música historicamente simples de uma forma magistral através da leitura contemporânea de uma língua morta, servindo-se de um supremo arrojo formal e orquestral que acompanha, com rigor e de forma ensaiada ou em estilo de «jam session», o canto livre de uma voz premiada com uma estupenda espessura dramática, temperada aqui e ali por pedaços de música electrónica.

Um disco fabuloso, moderno e possuído por uma dinâmica instrumental que, de tão desenvolta e carregada de fantasia, sacia os nossos sentidos com um prazer sublime feito de diversidade, virtuosismo e colectivismo.

Um verdadeiro banquete e aquilo a que já podemos chamar um clássico recente.

 

 

Roady

Wandering eye

12 de Agosto de 2008

 

Complete Billie Holiday-Lester Young, 1937-1946 (editado em 1999 sob a responsabilidade de Alain Gerber)

 

«Os cerca de 90 minutos que Billie e Lester deixaram gravados são um marco da música ocidental, de Bach a Mozart e Ornette»

 

Will Friedwald in «Jazz Singing»

 

 

Billie Holiday e Lester Young, falecidos, respectivamente, a 17 de Julho de 1959 e a 15 de Março do mesmo ano, encontraram-se pela primeira vez em estúdio a 25 de Janeiro de 1937.

Esta caixa de 3 cds reúne o mais apetecível das gravações que os juntaram nas décadas de 30 e 40 do século passado. Billie e Lester acompanharam-se um ao outro numa vida de excessos, não conseguindo evitar um destino previsivelmente trágico. Aquilo a que se vulgarizou chamar um caso típico de criadores geniais sobrevivendo numa situação de miséria que, de resto, estava em perfeita sintonia com as condições sociais em que a maioria dos músicos de jazz daquela época nasceram e cresceram.

Se a caixa é toda recomendável, a matriz essencial do namoro musical entre a voz de Billie Holiday e o saxofone tenor de Lester Young concentra-se no intervalo compreendido entre os anos de 1937 e de 1942.

É este período que vê nascer a grande maioria das canções de antologia e as que provocaram as paixões mais arrebatadoras. Um momento de plenitude musical raramente atingido por outros (grandes) músicos de jazz!

Como esquecer a marca indelével da individualidade de cada um ou a comunhão corporal e espiritual que fazia dos intérpretes dois irmãos/amantes artísticamente inseparáveis?

De tudo o que a dupla assinou, apetece-me recordar a riqueza da substância musical e interpretativa devidamente comprovada pelas mudanças de tempo, pequenas variações melódicas ou recriações do fraseado musical conseguidas no espaço limitado de uma canção, condicionado pelas restrições técnicas da época. Apetece-me falar de um conjunto fulgurante de canções, por onde corre um brilho intenso, narrando relações sofridas e amores doridos que se deseja guardar num estojo pessoal para, mais tarde, transmitir secretamente apenas a mais um dois dos pobres mortais de adoramos intimamente. E não é tudo.

Não saio daqui sem testemunhar que Billie e Lester Young foram gémeos tanto na originalidade da arte que ousaram criar como nos problemas que enfrentaram durante o seu ciclo de vida. Problemas que provocaram, como seria inevitável, um final de carreira menos merecedor de elogios.

Se há quem prefira esquecer os últimos anos de actividade musical do duo, a verdade é que mesmo aí, para mim, é difícil ficar indiferente à emoção que emana de cada uma das suas composições, mesmo que o brilho se desvaneça ou o fulgor pareça ausente.

E antes que a luz se apague, volto ao período de oiro para vincar que é impossível ficar sereno perante a audição de prodígios como «All of me», «Back in your own backyard», «I can’t get started», «Let´s do it», «The man I love» e tantas, tantas outras cuja referência integral se tornaria num verdadeiro calvário.

Um dos marcos indiscutíveis da música do século XX, onde um punhado de canções absolutamente viciantes e inquietantes atiçam e ferem os nossos orgãos vitais de forma inabalável durante breves mas longos momentos, porque nunca mais nos largam, onde o que mais impressiona é aquela sensação de querermos ser cúmplices de dois músicos que parecem tocar apenas para si.

 

 

 

I can't get started

publicado por adignidadedadiferenca às 00:02 link do post
10 de Fevereiro de 2008

Kind of Blue - Miles Davis (1959)

 

 

A mais perfeita gestão do tempo e do silêncio de que há memória num disco de jazz. A unidade impressionante de uma banda, mantida no diálogo permanente entre os instrumentos, com a contribuição do som em surdina do trompete de Miles (prolongando o que já tinha explorado em 'round about midnight), da clareza das notas do saxofone de Coltrane, da doçura insinuante do piano e da secção rítmica. Um acto de criação formidável faz acreditar que a música pode ser tudo isto: melancolia, lirismo, impressionismo, magia e sonho.

publicado por adignidadedadiferenca às 14:42 link do post
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