a dignidade da diferença
25 de Janeiro de 2014

 

«As aparências iludem. No entanto, possuímos um amplo conhecimento da vasta e desconhecida realidade que as causa e das elegantes leis universais que regem essa realidade. Esse conhecimento assenta em explicações: afirmações sobre o que existe para além das aparências, e sobre como se comporta. Não fomos muito bem sucedidos na criação deste tipo de conhecimento na maior parte da história da nossa espécie. De onde vem? O empirismo dizia que o extraíamos da experiência sensorial. Isto é falso. A verdadeira fonte das nossas teorias é a especulação, e a verdadeira fonte do nosso conhecimento é a especulação alternada com a crítica. Criamos teorias reorganizando, aliando, alterando e acrescentando ideias às já existentes com a intenção de as melhorar. O papel da experimentação e da observação é escolher entre as teorias existentes, e não originar outras novas. Interpretamos as experiências através de teorias explicativas, mas as verdadeiras explicações não são óbvias. O falibilismo implica não ter em conta a autoridade mas, em vez disso, reconhecer que podemos estar sempre errados, e tentar corrigir os nossos erros. Fazemo-lo quando procuramos boas explicações – explicações de que é difícil criar variantes no sentido em que alterar os pormenores arruinaria a explicação. Este, e não o ensaio experimental, constitui factor decisivo na revolução científica, bem como no progresso sustentado, rápido e único noutras áreas do iluminismo. Foi uma revolta contra a autoridade que, ao contrário de outras semelhantes, não tentou alicerçar-se em justificações para as teorias do poder, mas antes estabelecer uma tradição de crítica. Algumas das ideias daí resultantes têm um enorme alcance: explicam mais que o originalmente proposto. O alcance de uma explicação é um atributo intrínseco dessa explicação, não uma suposição que fazemos sobre ela, como defendiam o empirismo e o indutivismo.»

David Deutsch, The Beginning of Infinity – Explanations that Transform the World

28 de Dezembro de 2013

Face à dimensão quase estratosférica de obras que foram publicadas durante o ano e à impossibilidade física de aceder a um número mínimo exigível que permita ficar com uma ideia aceitável das publicações relevantes no domínio da criação literária, apresentar uma lista dos melhores livros do ano é, cada vez mais, uma tarefa francamente ingrata. Subsiste por isso o critério utilizado no último ano: escolher de memória os livros que mais me agradaram, sem preocupações de género ou de hierarquia. Uma lista de doze livros (nacionais e estrangeiros) - quantidade só possível de atingir com o contributo dos dois volumes da História da Minha Vida, de Giacomo Casanova -, equivalente a um por cada mês de calendário, discretamente organizada por simples ordem alfabética. Falta o destaque mais ou menos óbvio de Servidões, do Herberto Hélder - pelo menos, a avaliar pela dimensão transcendente da sua obra passada -, mas não consegui apanhar o livro. Também não entra na lista, mas podia entrar, o livro com a recolha dos escritos de Claudio Magris, publicados em jornais nos últimos dez anos, intitulado Alfabetos. Porém, só agora tive a oportunidade de lhe pegar...

 

 Giacomo Casanova, História da Minha Vida (2 volumes)

 

 Pedro Correia, Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico

 

 Carlos Fuentes, Contos Sobrenaturais

 

Ben Goldacre, Farmacêuticas da Treta

 

Knut Hamsun, Mistérios

 

Henry James, O Aperto do Parafuso

 

Jacques Rancière, Béla Tarr O Tempo do Depois

 

Gustavo Sampaio, Os Privilegiados

 

Lee Smolin, O Romper das Cordas

 

Hjalmar Söderberg, O Jogo Sério

 

Dalton Trevisan, A Trombeta do Anjo Vingador

21 de Setembro de 2013

 

 

How to Lie with Statistics, escrito por Darrell Huff - publicado recentemente no nosso país pela Gradiva, integrado na coleção Ciência Aberta, intitulado Como Mentir Com a Estatística e traduzido por Rui Filipe Graça, ficando, por sua vez, a revisão científica a cargo de Carlos Fiolhais -, tornou-se um hiperclássico com mais de meio século de existência. Concebido essencialmente com o objetivo de preparar as pessoas contra quem as procura enganar através do (ab)uso da estatística – cujas médias, correlações, tendências e gráficos, como refere Huff, nem sempre são aquilo que parecem -, e construído numa linguagem bastante acessível, simples e clara, sem esquecer contudo o necessário rigor científico, este livro tem ainda hoje a capacidade para ensinar e divertir os seus leitores, explicando como se deve encarar e enfrentar uma estatística falsa (certificando-se, por exemplo, se esta faz algum sentido). Retirados da sua pequena introdução à obra, ficam aqui referidos alguns dos propósitos iniciais do seu autor:

 

 

«A linguagem secreta da estatística, tão atraente no quadro de uma cultura baseada em factos, é usada para causar sensacionalismo, para amplificar, para confundir e para simplificar o mais possível. Os métodos e termos estatísticos são necessários para comunicar um grande volume de dados sobre tendências socioeconómicas, condições de mercados, pesquisas de opinião e recenseamentos. Todavia, sem autores que usem as palavras com honestidade e sentido e sem leitores que saibam o que elas querem dizer, o resultado só poderá ser um completo disparate semântico. Na escrita popular sobre assuntos científicos, os abusos estatísticos quase nunca aparecem associados ao lugar-comum do herói de bata branca que trabalha horas a fio num laboratório mal iluminado, sem direito a pagamento de horas extraordinárias. Como se fossem uns pozinhos de perlimpimpim, as estatísticas fazem muitos factos importantes parecerem aquilo que, de facto, não são. Uma estatística bem embrulhada é melhor do que a “grande mentira” da propaganda hitleriana – engana, mas não revela a origem do engano. Este livro é uma espécie de introdução às várias formas de usar a estatística para enganar alguém. Pode parecer um manual para vigaristas. Talvez eu possa justificá-lo com a imagem do ladrão aposentado cujo livro de memórias equivale a uma licenciatura em arrombar fechaduras e andar com pezinhos de lã: os bandidos já conhecem esses truques, mas as pessoas honestas devem aprendê-los para sua própria defesa.»

29 de Agosto de 2013

 

 

«A teoria das cordas, tal como é entendida, postula que o mundo é essencialmente diferente do mundo que conhecemos. Se a teoria das cordas estiver certa, o mundo tem mais dimensões e muito mais partículas e forças do que as observadas até ao momento. Muitos teóricos das cordas falam e escrevem como se a existência dessas dimensões e partículas adicionais fosse um facto comprovado, de que nenhum bom cientista pode duvidar. Mais de uma vez algum teórico das cordas me disse coisas como “quer dizer que tu achas que é possível não existirem dimensões extra?”. Na verdade, nem a teoria nem a experiência oferecem qualquer indício de que existam dimensões extra. Um dos objectivos deste livro é desmistificar as afirmações da teoria das cordas. As ideias são bonitas e com boa motivação. No entanto, para entender por que razão não levaram a um progresso maior temos de ser claros precisamente quanto ao que os dados apoiam e ao que ainda está a faltar. Uma vez que a teoria das cordas é um empreendimento de tão alto risco – não sustentado pela experiência, apesar de muito generosamente apoiado pelas comunidades académicas e científicas -, existem apenas duas maneiras de a história acabar. Se a teoria das cordas se revelar correcta, os teóricos das cordas passarão a ser os maiores heróis da história da ciência. Com base num punhado de pistas – tosas elas de leitura ambígua -, terão descoberto que a realidade é muito mais vasta do que se imaginava. (…) Por outro lado, se os teóricos das cordas não tiverem razão, não podem estar apenas um pouco errados. Se as novas dimensões e simetrias não existirem, incluiremos os teóricos das cordas entre os maiores fracassados da ciência, como aqueles que continuaram a trabalhar nos epiciclos de Ptolomeu na altura em que Kepler e Galileu avançaram. Sobre eles serão contadas histórias de advertência acerca do modo como não se deve fazer ciência, como não permitir que a conjectura teórica fique tão para além dos limites do que pode ser racionalmente argumentado que o seu autor comece a envolver-se em pura fantasia.»

Lee Smolin, O Romper das Cordas, Ascenção e Queda de uma Teoria e o Futuro da Ciência

16 de Agosto de 2013

 

 

Começa a ser insustentável a ideia apresentada pelos nossos governantes de que a atual crise da dívida pública resulta do facto de os portugueses andarem nestes últimos anos a viver e a gastar acima das suas possibilidades. Dois livros recentes procuram demonstrar precisamente o contrário; Da Corrupção à Crise, de Paulo de Morais, e Os Privilegiados, do jornalista Gustavo Sampaio. Se o compararmos com as intervenções públicas na televisão do seu autor, o primeiro trabalho é, contudo, uma rotunda desilusão. Populista e demagogo, o antigo vice-presidente da Câmara Municipal do Porto usa e abusa de um estilo excessivamente incendiário e acusatório, recorrendo por diversas vezes a insinuações mais ou menos vagas e genéricas, tirando daí conclusões que na sua maioria não se afastam de meros lugares comuns ou de chavões gastos, repetidos e vazios na sua essência. Os políticos são todos uns corruptos, bandidos e ladrões. Trata-se de uma análise bastante rudimentar da nossa classe política, pecando por uma manifesta falta de profundidade. O que se lamenta, pois Paulo de Morais aponta, por vezes, o dedo às pessoas certas e denuncia com eficácia situações concretas. Mas, infelizmente, cai demasiadas vezes num estilo típico das conversas corriqueiras de café ou numa linguagem intencionalmente polémica que nos habituámos a ver em pasquins do género do Correio da Manhã. Enfim, um livro bastante sofrível que poderia fazer muito mais pela denúncia de uma certa casta política. Bastante superior é a notável obra do jornalista freelancer Gustavo Sampaio.

 

 

Os Privilegiados consiste num magnífico trabalho de investigação sobre o regime das incompatibilidades e o conflito de interesses na Assembleia da República, sobre o trânsito de ex-políticos para as administrações de empresas – exemplificando entre as cotadas no índice PSI 20 –, cumprindo ou não o período de nojo (três anos), sobre o Estatuto remuneratório dos titulares de cargos públicos e as Subvenções vitalícias dos titulares de cargos políticos, e sobre as nomeações para cargos dirigentes na administração direta e indireta do Estado, setor empresarial do Estado e gabinetes ministeriais, comparando os privilégios adquiridos pela nossa classe política com os modelos de diversos países europeus. Se o livro não fornece especiais novidades a quem anda bem informado, oferece, porém, com a sua rigorosa contextualização e sistematização, uma portentosa visão panorâmica sobre a promiscuidade existente entre o mundo da política e as atividades económicas e financeiras, a conexão entre as funções públicas e os interesses privados, o tráfico de influências ou a escandalosa rede de interesses convergentes entre a classe política, as empresas públicas e os negócios privados. Concretizando a crítica no lugar de a generalizar, como propõe de resto o seu autor, Os Privilegiados distingue os maus políticos daqueles que servem efetivamente a causa pública e deixa o leitor munido de suficiente informação para tomar a liberdade de pensar e procurar entender quem são os verdadeiros responsáveis pela situação ruinosa a que chegou o nosso Estado. Um livro obrigatório.

18 de Agosto de 2012

 

 

Questionar, pôr em causa conceitos adquiridos: uma regra de oiro que deveria ser seguida sem limites de qualquer espécie e cuja validade é inquestionavelmente absoluta. Trágica e infelizmente, porém, por causa de uma obediência cega aos dogmas estabelecidos, a sua interiorização, apreensão ou utilização são cada vez mais, sobretudo nos tempos hodiernos, diminutas, raríssimas. Quem fica a perder é o conhecimento. Simon Singh, físico de méritos reconhecidos, no seu magnífico Big Bang (que a Gradiva editou no nosso país e Paulo Ivo Cortez Teixeira e José Braga traduziram), põe pertinentemente o dedo na ferida: «A descoberta de Baade não só contribuíra imenso para colmatar uma das principais falhas do modelo do Big Bang, como, o que é mais importante, pusera a descoberto uma fraqueza da astronomia em geral – o hábito de obediência cega. A reputação de Hubble levara os astrónomos a aceitar sem hesitação os valores que ele propusera para as distâncias a Andrómeda e às outras galáxias. Não questionar nem pôr em causa afirmações tão fundamentais, mesmo quando proferidas por autoridades eminentes, é uma das caraterísticas da ciência de fraca qualidade.»

02 de Agosto de 2012

 

 

A história da evolução e da vida não obedece a qualquer ordem ou lógica de progresso. O homem não é o ser mais complexo nem o objeto supremo da criação; apesar do impacto e do peso inegável da sua presença no planeta, o aparecimento do homem foi provavelmente imprevisível e a sua evolução correspondeu a uma série de alterações casuais das circunstâncias e dos meios geográficos. Na realidade, a tese que defende a ideia de que o homem é o culminar de uma evolução que começa nos micro-organismos e se estende pelos invertebrados, peixes e mamíferos, encontra-se viciada pelo facto de ser aquela que gostamos de ouvir. É assim que pensa, pelo menos, o paleontólogo Stephen Jay Gould. O enfoque de Gould, no magnífico Full House, sustenta que a variação, a espontaneidade e a diversidade são a realidade de grau mais elevado da excelência (numa comparação deliciosa com o full house num jogo de póquer), utilizando, para o efeito, variadíssimos exemplos, análises e enigmas, como forma de concretizar a essência do seu entendimento segundo o qual se deve «encarar a origem do homo sapiens como um acontecimento fortuito, não passível de repetição, não podendo os seres humanos ocupar qualquer posição privilegiada no topo ou constituir o culminar de alguma coisa». No fundo, como o autor de resto já defendia no anterior A Vida é Bela, é bem provável que o ser humano só tenha aparecido por mero acaso. O livro, dezasseis anos depois, mantém todo o fascínio.

publicado por adignidadedadiferenca às 01:10 link do post
31 de Março de 2012

 

«O resultado é que Poeira da Alma, que se inicia com as questões mais básicas acerca da natureza da perceção e da sensação conscientes, torna-se uma obra sobre a evolução da espiritualidade e sobre o modo como os humanos se instalaram naquilo a que chamo o nicho da alma. Embora eu não tenha qualquer crença no sobrenatural, não apresento desculpas para repor na alma onde estou certo de que é o seu lugar: no centro dos estudos da consciência. Mesmo assim, embora a obra termine debruçando-se sobre muitas preocupações humanas familiares, não se deve esperar que seja de leitura fácil. Houve trabalho que tive de desenvolver, e também será necessário que o leitor faça o mesmo. As respostas a que chego são por certo distintas das que a ciência tem apresentado. Tenho de admitir que, por si só, isto não é uma recomendação. Por certo que a ciência pretende ser mais cumulativa do que revolucionária. Porém, quando a investigação anterior sobre a consciência não produziu quase nada como resposta às grandes interrogações das pessoas sobre o mistério da sua experiência, talvez já não possamos continuar a confiar na ciência como estamos acostumados a fazer. O mundo material dotou os seres humanos de almas mágicas. As almas humanas retribuíram o favor, lançando um sortilégio sobre o mundo. Para compreender esses factos assombrosos, convido-vos a dar início à leitura.»

«Poeira da Alma», de Nicholas Humphrey, tradução de Ana Falcão Bastos

12 de Fevereiro de 2012

 

 

O Património Genético Português é uma obra muito interessante, nada inacessível, sobre a origem dos portugueses, investigando a sua história genética. Uma escrita elegante serve de suporte ao estudo do nosso património genético, cujas conclusões são o espelho natural das paixões e do conhecimento obtidos e desenvolvidos pelas autoras de tão singular trabalho: Luísa Pereira e Filipa M. Ribeiro. No fundo, uma preciosa ajuda para compreender as características, a evolução e a diversidade dos portugueses através da sua história, da sua memória e das suas relações, referências, caminhos e desvios. Um património genético comum que merece ser conhecido e para cuja divulgação contribui o assinalável esforço desenvolvido por esta obra meritória assente num elevado grau de rigor científico. Como se afirma no posfácio deste livro «É, contudo, importante realçar que o verdadeiro poder informativo do estudo das linhagens maternas e paternas se centra na inferência das migrações da espécie humana no seu conjunto; em saber que somos uma espécie recente, nascida há cerca de 150 000-200 000 anos; em conhecer o nosso berço no Leste de África; em seguir migrações ao longo do mundo e ao longo do tempo».

08 de Setembro de 2011

 

 

«Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar, porque constituem uma forma de tentarmos descobrir quais os melhores pontos de vista. Nem todos os pontos de vista são iguais. Algumas conclusões podem ser defendidas com boas razões e outras com razões menos boas. No entanto, não sabemos na maioria das vezes quais são as melhores conclusões. Precisamos, por isso, de apresentar argumentos para sustentar diferentes conclusões e, depois, avaliar tais argumentos para ver se são realmente bons. Neste sentido, um argumento é uma forma de investigação. Alguns filósofos e activistas argumentaram, por exemplo, que criar animais só para produzir carne causa um sofrimento imenso aos animais e que, portanto, é injustificado e imoral. Será que têm razão? Não podemos decidir consultando os nossos preconceitos. Estão envolvidas muitas questões. Por exemplo, temos obrigações morais para com outras espécies ou o sofrimento humano é o único realmente mau? Podem os seres humanos viver realmente bem sem carne? Alguns vegetarianos vivem até idades muito avançadas. Será que este facto mostra que as dietas vegetarianas são mais saudáveis? Ou será irrelevante, tendo em conta que alguns não vegetarianos também vivem até idades muito avançadas? (É melhor perguntarmos se há uma percentagem mais elevada de vegetarianos que vivem até idades avançadas.) Terão as pessoas mais saudáveis tendência para se tornarem vegetarianas, ao contrário das outras? Todas estas questões têm de ser apreciadas cuidadosamente, e as respostas não são, à partida, óbvias. Os argumentos também são essenciais por outra razão. Uma vez chegados a uma conclusão baseada em boas razões, os argumentos são a forma pela qual a explicamos e defendemos. Um bom argumento não se limita a repetir as conclusões. Em vez disso, oferece razões e dados suficientes para que as outras pessoas possam formar a sua própria opinião. Se o leitor ficar convencido de que devemos realmente mudar a forma como criamos e usamos os animais, por exemplo, terá de usar argumentos para explicar como chegou a essa conclusão: é assim que convencerá as outras pessoas. Ofereça as razões e os dados que o convenceram a si. Ter opiniões fortes não é um erro. O erro é não ter mais nada.»

Anthony Weston, A Arte de Argumentar, Tradução de Desidério Murcho.

publicado por adignidadedadiferenca às 19:41 link do post
02 de Julho de 2011

 

 

«É uma pena que Ptolemeu – pai indiscutível da geografia moderna – ficasse indelevelmente identificado com uma astronomia obsoleta! Uma das razões de Ptolemeu, o geógrafo, ocupar um lugar tão apagado na história deve-se ao facto de sabermos tão pouco da sua vida. Egípcio grego ou grego egípcio, usava um nome comum no Egipto alexandrino e, por acaso, o de um dos companheiros mais íntimos de Alexandre, o Grande. Outro Ptolemeu tornou-se governador do Egipto por morte de Alexandre e depois proclamou-se rei e fundou a dinastia ptolemaica, que governou o Egipto durante três séculos (304-30 a.C.). Mas esses Ptolemeus foram apenas reis, enquanto o nosso Ptolemeu foi um homem de ciência.»

 

Daniel J. Boorstin, «Os Descobridores», tradução de Fernanda Pinto Rodrigues

publicado por adignidadedadiferenca às 00:49 link do post
27 de Março de 2011

 

 

«Tomemos outro exemplo de um tema já abordado: Numa associação industrial cooperativa, será ou não justo que o talento ou a perícia dêem direito a uma remuneração superior? Do lado de quem responde negativamente, afirma-se que quem dá o melhor que pode merece o mesmo, e não deve, à luz da justiça, ser colocado numa posição de inferioridade por coisas de que não tem culpa; que as capacidades superiores encerram em si vantagens mais que suficientes, pela admiração que suscitam, a influência pessoal que exercem, e pelas fontes de satisfação que as acompanham, sem necessidade de adicionar a estas uma maior fatia dos bens do mundo; e que, pelo contrário, a sociedade está obrigada em justiça a compensar os menos favorecidos por esta imerecida desigualdade de benefícios, e não a agravá-la. No lado contrário defende-se que a sociedade recebe mais do trabalhador mais eficiente; que, sendo os seus serviços mais úteis, a sociedade lhe deve uma retribuição maior por eles; que uma maior fatia do resultado conjunto é na verdade obra sua, e não lhe reconhecer o direito a ela é uma espécie de roubo; que se ele receber apenas o mesmo que os outros, pode apenas exigir-se-lhe, em justiça, que produza o mesmo, e dedique uma menor percentagem de tempo e esforço, proporcionais à sua eficiência superior. A justiça tem neste caso duas faces, que é impossível harmonizar, e os dois contendores escolheram lados opostos; um deles olha para o que seria justo que o indivíduo recebesse, o outro para o que seria justo que a comunidade lhe concedesse.»

Stuart Mill, John, Utilitarismo, Gradiva, tradução: F. J. Azevedo Gonçalves

publicado por adignidadedadiferenca às 11:26 link do post
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