Acontece-me, muitas vezes, comprar um livro e deixá-lo ficar por aí à espera que um dia mais tarde me chegue a vontade e, finalmente, lhe volte a pegar e me decida pela sua leitura. Foi o que se passou com Balada para Sérgio Varella Cid assinado por Joel Costa e publicado pela Casa das Letras.
O livro, não sendo particularmente brilhante, é escrito, contudo, numa linguagem bastante eficaz e escorreita que me conseguiu prender a atenção até ao seu final.
Trata-se da biografia do magnífico pianista português – um dos mais brilhantes do seu tempo – cuja riqueza e originalidade não se centra particularmente na sua carreira como pianista - aí seguiu o mesmo caminho de tantos outros; preenchido por dúvidas, receios, recitais e aclamações.
Nesta matéria, interessa muito mais a vida do que a carreira do intérpetre, e não se consegue separar uma da outra. Ou seja, como se afirma no livro, a sua vida não se conta em capítulos do género «uma coisa é o homem e outra coisa é o artista».
Citando a pequena introdução que faz parte do livro «É arriscado dizer que Varella Cid foi o maior pianista português. Pode ter sido o mais romântico de todos. Pode ter sido a personalidade mais fascinante. Pode mesmo ter sido o mais genial. Foi, seguramente, o mais controverso. Romântico, fascinante, problemático e genial na música como nos dilemas de uma existência curta e vertiginosamente vivida entre a luz e a sombra, entre a sala de concertos e o casino, entre o teclado e o pano verde. Personagem brilhante e imperfeita, idolatrado ou menosprezado, correu o mundo a perseguir a apolínea perfeição artística sem deixar de se deslumbrar pela aventura de uma vida que foi para ele, por vezes, demasiado real».
Claro que esta história teria, obviamente, um final trágico e controverso e, quanto a nós, só nos resta a oportunidade de ouvir as suas excelentes interpretações através da muito reduzida oferta discográfica. Segundo julgo saber, só se encontram, actualmente, disponíveis as suas leituras das sonatas para piano n.º 17, 23 e 31 de Beethoven e do Concerto n.º 2 para piano e orquestra de Brahms. Escutem-nas.