Tenente Blueberry, de Giraud e Jean-Michel Charlier
Mais uma demonstração eloquente da relação directa entre BD e cinema, neste caso, com a criação de uma das mais consistentes e duradouras aventuras passadas no oeste americano.
Blueberry, um herói individualista e um militar rebelde, juntamente com Red Neck, McClure e Chihuahua Pearl, formam, com os índios e mais uns quantos seres solitários, um conjunto de excêntricas e raras personagens - a quem é atribuída uma dignidade fora do comum, como se pode ver, por exemplo, nas pranchas onde aquelas se destacam num fundo branco (ou ausência de cenário) -, apoiadas, quase sempre, num argumento fabuloso, nada habitual nas «histórias aos quadradinhos».
O talento dos autores cria uma obra com a dimensão da mitologia do western americano, seja nos textos e nos diálogos soberbos de Charlier, num estilo que lembra, por vezes, a secura e a crueza do film noir, seja no realismo e rigor gráfico de Giraud, clara e profundamente cinematográfico, caracterizado, como se pode constatar, pela influência do espaço Fordiano (o Monument Valley), pelas paisagens desertas e agrestes do território mexicano, pelo esplendor do cinemascope
e pela violência própria do western-spaghetti.
Com muitos e muitos volumes publicados, uma obra admirável para ser lida e apreciada lentamente, arrumando-se, por fim, junto aos verdadeiros clássicos (do cinema ou da literatura).