OS EMIGRANTES
Em tempo de crise e com os sucessivos despedimentos que a acompanham, é (quase) inevitável a crescente e perigosa xenofobia que aí vem, com os velhos – e já gastos – argumentos de sempre: os estrangeiros que chegam ao nosso país vêm roubar o trabalho aos portugueses e a grande maioria traz a bagagem cheia de intenções criminosas.
Claro que vale sempre a pena relembrar os motivos que levaram tantos portugueses a emigrar durante os miseráveis anos da ditadura, à procura de uma vida mais justa e mais digna. Mas hoje pretendo, somente, aconselhar-vos um livro magnífico que ajuda, e muito, a compreender a complexa teia de sentimentos que ocupa esse verdadeiro espírito de aventura que faz a força e dá coragem a quem, um dia, decide largar tudo em busca de algo melhor. O livro chama-se Os emigrantes, foi escrito por W. G. Sebald – um dos maiores autores contemporâneos -, e narra a história de quatro emigrantes e exilados judeus do século XX.
No livro compreendemos, graças à estupenda e comovente prosa do escritor alemão, a noção de perda, separação e saudade do país natal que vai minando o pensamento daqueles que foram forçados a abandoná-lo rumo a uma imprevisível e interminável peregrinação.
E aproveitando a ocasião, aconselho-vos também a leitura de (pelo menos estes) Austerlitz e Os Anéis de Saturno, provas definitivas do estilo único e inclassificável de um escritor singular (falecido em Dezembro de 2001), recheado dos mais variados recursos estilísticos: desde o documentário à ficção, passando pelo diário, pela autobiografia ou, ainda, pela persistência do homem em busca das suas raízes culturais e não só.
Todos estes livros foram publicados pela Teorema (passe a publicidade) e traduzidos por Telma Costa.