Full House, A difusão da excelência de Platão a Darwin - Stephen Jay Gould (1996)
Eis uma visão polémica, mas fascinante, acerca da teoria da evolução. Stephen Jay Gould põe em causa, nesta obra e de um modo perturbante, as ideias a favor da evolução gradual das espécies – a natureza do progresso – que culmina no expoente máximo da complexidade; o aparecimento do Homem.
Gould sugere um caminho diferente, contestando aquilo que, muitas vezes, já adquirimos como verdade incontestável. Questionando com pertinência as teorias criacionistas e muitas das evolucionistas, o célebre paleontólogo insiste em afirmar que o aparecimento do Homem é meramente fortuito e nunca o resultado obtido com a evolução da vida no planeta que conduziu ao que, erradamente, julgamos ser o grau máximo da complexidade da espécie.
Para defender a sua doutrina, Stephen Jay Gould socorre-se, como habitualmente, de uma linguagem clara e própria de um grande comunicador como ele sempre foi, tecnicamente rigorosa, cheia de exemplos notáveis e esclarecedores e de enigmas que vai decifrando ao juntar as várias peças do puzzle que estendeu durante a narrativa, transmitindo brilhantemente aos seus leitores aquilo a que se propôs: A verdadeira excelência na terra não se manifesta na complexidade, mas através da diversidade e da espontaneidade.
Um desafio ousado e de leitura obrigatória.
Deixo-vos com as suas próprias palavras:
«Full House é um guia do mesmo género de um dos meus livros anteriores, A vida é bela (1989). Em conjunto, estas duas obras apresentam uma perspectiva integrada e nada convencional sobre a história e o significado da vida – uma perspectiva que nos obriga a rever a noção que temos do estatuto humano nesta mesma história. Em A Vida é Bela afirmam-se a imprevisibilidade e a contingência de qualquer acontecimento particular da evolução e dá-se ênfase ao facto de devermos encarar a origem do Homo sapiens como um acontecimento fortuito, não passível de repetição, e não como uma consequência previsível. Em Full House apresenta-se o argumento geral que permite negar que o progresso defina a história da vida ou até que exista de forma alguma sob a forma de uma tendência. Nesta perspectiva da vida como um todo, os seres humanos não podem ocupar qualquer posição privilegiada no topo ou constituir o culminar de alguma coisa. A vida foi desde sempre dominada pelo modo bacteriano.»
Excerto do livro traduzido por Miguel Abreu. Editora: Gradiva. Edição: Agosto de 2000