Só soube da notícia ontem à noite ao visitar este óptimo blog. Confesso que não sou muito dado a homenagens mesmo em cima do desaparecimento de alguém que (muito) admiro. Mas com Hector Zazou vou ser diferente.
Não vou falar da sua carreira e da sua importância como músico – outros o farão muito melhor do que eu. Apetece-me, sim, lembrar o magnífico espírito futurista de um esteta com uma visão muito particular do que deve ser uma verdadeira música sem fronteiras.
Crescentes e sedutoras aproximações tímbricas ao ambientalismo (não confundir com a new age, por favor), pequenas abstracções sonoras lançadas em voo picado sobre transparentes devaneios electrónicos e uma viagem inquieta e experimental em busca de um novo paradigma para uma música de contornos étnicos enriqueceram a sua obra, moldando-a numa caixa de música em miniatura, onde tanto se convoca o espírito em surdina de Miles Davis, como o conceito quarto-mundista de Jon Hassel, a qual, sob a direcção personalizada de Zazou, nos oferece uma mão-cheia de canções impressionistas e carregadas de partículas sonoras dos quatro cantos do mundo, onde frequentemente colaboram os universos pessoais de autores tão extraordinários como, entre outros, Bjork, John Cale, Manu Dibango, Varttina, Khaled, Barbara Gogan, Sakamoto, Sussan Deihim ou David Sylvian que acrescentam sempre algo de novo ao corpo musical de Zazou.
Não conheço a obra completa do compositor e produtor francês, mas na minha estante pessoal guardo sempre os óptimos Les nouvelles polyphonies corses e Songs from the cold seas. E, claro, num lugar mais protegido fica Sahara blue: a genial e absolutamente inesquecível evocação da vida e poesia de Arthur Rimbaud e um dos grandes álbuns do século XX. E não me esqueço que foi a sua imaginação que criou e produziu, a meias com Sainkho, uma das mais extraordinárias canções do álbum Out of tuva: a sublime Bai-laa Taigam.
Também não sou grande apreciador de despedidas, mas se as pessoas que lhe são mais chegadas vão certamente desejar paz à sua alma, eu só posso prometer que não vou deixar a sua música em sossego.