Se, para mim, o tropicalismo foi a mais importante revolução musical nascida no Brasil e a que, ainda hoje, mais influência exerce sobre a musica popular contemporânea do resto do planeta, é inegável que naquele país sul-americano, outra (e anterior) revolução musical existiu. Foi (quem ousa contestar?) a primeira vez que a música brasileira atingiu a modernidade - um novo som (ou batida) tirado do violão de braço dado com o jazz e uma voz minimalista que relata as cenas do quotidiano (de que é exemplo paradigmático o «fotografei você com a minha Roleflex» de «Girl from Ipanema» -, graças, sobretudo, ao contributo e ao génio musical de João Gilberto e de Tom Jobim, às letras de Vinicius de Moraes e, em menor escala, ao talento de Nara Leão, de Marcos Valle e de Carlos Lyra, com o testemunho essencial de Astrud Gilberto, de Stan Getz e, um pouco mais tarde, de Frank Sinatra. Agora que a bossa nova fez 50 anos, deixo aqui a minha sincera homenagem ao movimento com excertos da gravação (que, segundo reza a história, passou por momentos de verdadeira tensão) do meu álbum preferido daquele período ímpar: Getz/Gilberto de 1963, com a participação, além do saxofone de Stan Getz e do violão e voz de João Gilberto - os dois que deram o nome ao disco -, da voz de Astrud Gilberto e do piano de Tom Jobim. No século XX, não se fizeram muitos discos assim.