Buster Keaton foi um dos gigantes incontornáveis do burlesco americano. Conhecido por «o homem que nunca ri», Keaton foi dos primeiros cineastas a compreender as modificações que os ritmos novos (de então) iriam trazer à relação do ser humano com o espaço que tem pela frente, sendo, por isso, eternamente moderno.
Se Chaplin, outro dos mestres da época, entendia o cinema de forma mais humanista (embora, muitas vezes, um humanismo profundamente perverso), Keaton era mais maquinal, uma vez que ele se reinventava ao nível das formas genuínas do tempo e do espaço e da relação que entre elas se estabelecia através do movimento, o que o torna um dos mais abstractos cineastas de sempre.
Os seus filmes são construídos com uma precisão e rigor tal, que parecem autênticas peças de relojoaria. Sucedem-se, a um ritmo alucinante, os gags calculados, de forma quase maníaca, até ao mais ínfimo detalhe e elaborados com uma cadência e ajuste matemático que ainda hoje surpreendem pela forma como tudo parece jorrar do modo mais natural possível. Exemplos perfeitos encontram-se na prodigiosa mise-en-scène e na montagem de filmes como «The General», em que a acção se desenrola durante a guerra civil americana e serve de pretexto para a invenção de alguns dos mais geométricos, tresloucados e soberbos gags, ou como «Seven Changes» - veja-se a inacreditável cena em que o personagem tropeça numa pedra, que imediatamente arrasta atrás de si mais algumas e por aí fora em vertiginosa perseguição ao protagonista, até vermos, incrédulos, o mundo reorganizar-se e simultaneamente desabar inteiro perante os nossos olhos -, ou, por fim, esse filme dentro do próprio filme que é o espantoso «Sherlock, Jr.».
Sherlock, Jr.
Podia falar também de «Steamboat Bill Jr.» mas a lista ia parecer interminável. Buster Keaton perdeu relevância com o aparecimento do cinema sonoro, mas a sua arte individual e meticulosamente corporal continua, ainda hoje, ímpar e perfeitamente actual.
Um génio incontestado.
The General