«Propomos simplesmente um estudo de caso, que assenta em duas constatações interessantes para a nossa reflexão sobre o mundo em que vivemos e trabalhamos: jovens juristas, universitários e altos funcionários do Terceiro Reich reflectiram muito sobre as questões da gestão, porque o empreendimento do regime nazi enfrentava necessidades gigantescas em termos de mobilização dos recursos e de organização do trabalho. Elaboraram, paradoxalmente, uma concepção do trabalho não autoritária, em que o empregado e o operário consentem na sua sorte e aprovam a sua actividade, num espaço de liberdade e de autonomia muito incompatível a priori com o carácter iliberal do Terceiro Reich, uma forma de trabalho “pela alegria” que prosperou após 1945 e que nos é familiar hoje, quando o “empenhamento”, a “motivação” e a “implicação” são tidos como procedendo do “prazer” de trabalhar e da “benevolência” da estrutura.» Como? Através de uma gestão não-autoritária em que é-se livre de obedecer, livre de realizar os objectivos fixados. Liberdade que consiste na escolha dos meios, mas nunca na dos fins. «A darmos crédito ao que lemos em Reinhard Höhn, o seu método não tem senão méritos “Os colaboradores já não são dirigidos por ordens precisas dadas pelo seu superior (…) dispõem de um campo de acção bem definido em que são livres de agir e de decidir de maneira autónoma, graças às competências que lhes são atribuídas.” Mas cabe ao chefe, como sempre, a responsabilidade de comandar e, doravante, de controlar e de avaliar.» A Alemanha Federal acolheu favoravelmente o método de gestão, conciliável consigo própria. «O ordoliberalismo queria-se uma liberdade enquadrada, a economia social de mercado visava a integração das massas através da participação e da co-gestão, a fim de evitar a luta de classes e a derrapagem no sentido do “bolchevismo”. (…) É, com efeito, uma comunidade de carreiras, de intuições e de cultura que, após 1949, “reconstruiu” os fundamentos da produção económica, do Estado e das forças armadas. (…) É antes hoje que se põe a questão seguinte: como pode uma sociedade política liberal, única e inédita na história humana, tolerar, no domínio económico, práticas tão manifestamente antagónicas aos seus princípios fundamentais? A “gestão pelo terror” e a alienação quase absoluta de indivíduos reduzidos a um simples “factor trabalho”, a um puro “recurso humano” ou outro “capital produtivo” foram aclimatadas nas nossas sociedades tendo por motivo (…) a “globalização” e a sua realidade concorrencial.» Recordando o eugenismo, o racismo e o darwinismo social de que os nazis sempre foram devedores, Johann Chapotout expõe, neste livro, a tese da modernidade do nazismo, a sua «sinistra contemporaneidade», em que vinga um modelo de gestão no qual os colaboradores, livres de escolher os meios, nunca decidem os objectivos, transferindo-se, assim, dos chefes para os colaboradores, recaindo nestes, a responsabilidade exclusiva pelo eventual fracasso. São, por isso, sempre «livres de obedecer.»