Avessos à ideia de grandeza, à vaidade, ao estatuto e à pretensão, considerando o orgulho supérfluo e desadequado, cultivando o sujeito quotidiano e o propósito acessório, os breves textos reunidos neste livro pautam-se por exíguas descrições e despojados apontamentos sobre pequenas coisas ou objectos insignificantes, que, praticamente ignorados, resistem discretamente à sofreguidão do tempo. Fosse Robert Walser músico e o que se escutaria nos seus livros seria música de câmara rendilhada em pequenas subtilezas. Delicada, melancólica, miudinha e penetrante, diluída em gotículas e mantida num aparente secretismo, que é dissipado, no entanto, quando, recordando-a, me apercebo que a marca da sua doçura e fina ironia ficou cá.