a dignidade da diferença
29 de Abril de 2017

«Em 1897, o Congresso sionista de Basileia, dominado pela figura de Theodor Hertzl, auspiciara um retorno dos judeus da diáspora à Palestina. Este projecto foi adoptado, entre outros, por um activo e influente propagandista, o doutor Chaim Weizman, que moveu os cordelinhos junto do governo inglês (…) para obter um reconhecimento e um compromisso. (…) os fluxos migratórios durante longos tempos permaneceram bastante exíguos. (…) O sionismo que se vinha afirmando na Palestina era um movimento quase exclusivamente de origem europeia (pelo menos nestas primeiras fases) e “laico”. O factor restritamente religioso era importante, mas não decisivo; muito mais significativo era o elemento étnico, da identidade nacional judaica, ligada à terra dos antepassados. Além disso, muitos emigrantes traziam ideias socialistas e projectos de experimentação política e económica, como os kibutz, cooperativas agrícolas não muito diferentes das soviéticas. Os judeus começaram logo a disputar aos árabes a água e a terra, os dois bens primários da Palestina (…) que até hoje continuam no centro das preocupações políticas. A ocupação das terras verificou-se tanto através da aquisição junto de complacentes proprietários rurais árabes como através da expropriação violenta (…) os judeus conseguiram rapidamente organizar-se. (…) O problema da convivência de dois povos (…) na mesma terra tornou-se logo um factor decisivo.

 

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Quando a Grã-Bretanha manifestou o propósito de abandonar em 1948 o mandato sobre a Palestina, pôs-se imediatamente o problema de qual seria o futuro político da região. Os sionistas viram surgir no horizonte a ocasião propícia para criarem finalmente o Estado judaico; os palestinos em contrapartida estavam preocupados e convictos de que se estava a tramar qualquer coisa contra eles. Da questão foi encarregada a ONU, que formou uma comissão, a UNSCOP, para sugerir um projecto de solução. (…) Os judeus favoreceram os trabalhos da comissão, enquanto os árabes os boicotaram – e provavelmente é certo, como já tem sido sugerido, que se tratou de um gravíssimo erro político. (…) Foram meses de grande agitação, se não mesmo de guerra aberta. Logo a partir de Novembro de 1947, o Hagana e as organizações paramilitares judaicas, aplicando um plano estratégico há muito planificado, tinham desencadeado uma série de ataques contra os palestinos. Em Abril de 1948, o Irgun e o Lehl atacaram a aldeia palestina de Devir Massiva (…) e os palestinos responderam com uma represália em Jerusalém (…) Por isso não é de espantar que a UNSCOP, tomando consciência da impossibilidade de fazer conviver os dois povos, recomendasse uma partilha da Palestina (…) proposta aprovada pela Assembleia Geral da ONU. Assim, quando em Maio de 1948 a Grã-Bretanha retirou as suas tropas e pôs fim ao mandato, os sionistas proclamaram a toda a pressa o Estado de Israel, que foi reconhecido em poucas horas tanto pelos Estados Unidos como pela União Soviética, o que lhe assegurava a absoluta legitimidade no plano internacional.»

Massimo Campanini, in Storia del Medio Oriente.

21 de Abril de 2017

 

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Timothy Barton Ash, historiador e professor na Universidade de Oxford, escreveu «Free Speech – Ten Principles for a Connected World», um ensaio sobre a necessidade e a ideia de um discurso livre. Nele se aborda uma série de factos, com exemplos – proibição da propaganda gay na Rússia, da negação do holocausto na Alemanha, do genocídio arménio na Turquia, entre outros -, que ilustram o desejo repressivo que existe um pouco por todo o lado. Numa obra que pretende dar resposta à pergunta «Quão livre deverá ser a expressão?», na qual sobressai a importância de explicar porque não deve haver lugar a restrições à liberdade de expressão, o propósito primordial é criar um conjunto de normas globais elementares para guiar um mundo globalizado e ligado pela internet. Para se saber lidar com quem discordamos, para uma liberdade de expressão sem restrições, incluindo naturalmente as opiniões discordantes mesmo se e quando nos sentimos ofendidos. Um livro a favor da tolerância, com uma relevante capacidade analítica - histórica e política -, que procura desenvolver condições para que, como refere o autor, «estejamos de acordo sobre a forma como discordamos». Ash ensina os seus leitores a conviver com a diferença.

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