«Existe um leque cada vez mais variado de terapias alternativas que pretendem ser alternativas à medicina racional, a medicina que se ensina nas Faculdades, que se baseia em provas fundadas no método científico. Em geral, essas terapias agarram-se a verdades avulsas, mais próximas de uma crença religiosa do que do conhecimento científico. São amálgamas entre aquilo que os terapeutas alternativos consideram ser a medicina tradicional (que tem o seu valor cultural e nalguns casos alguma eficácia terapêutica) e ideias recentes, bem pouco sólidas, acerca de associações entre doenças e estilos de vida. Estas terapias alternativas caracterizam-se por recusarem toda a metodologia científica que valida um tratamento convencional e por, simultaneamente, escolherem a dedo certas ideias que apresentam como cientificamente comprovadas (por exemplo, que determinada raiz de uma planta tem uma acção anticancerígena). O melhor de dois mundos, à la carte, conforme servir a ocasião ou o público-alvo. (…) Uma farmácia também já não é um lugar seguro. Podemos encontrar nas prateleiras das farmácias todo o género de charlatanices, desde cosméticos caríssimos contendo nanopartículas que oferecem vantagens duvidosas em relação a alternativas muito baratas a suplementos vitamínicos de utilidade inexplicável e mesmo, nalguns casos, a aldrabices descaradas, como remédios homeopáticos. Há também um exército de delegados de propaganda médica que todos os dias, nos hospitais e consultórios, procura convencer os médicos de algumas coisas que são verdadeiros absurdos.»
David Marçal e Carlos Fiolhais, in Pipocas Com Telemóvel e Outras Histórias de Falsa Ciência