«Em anos de consensos corporativos forçados, de realpolitik cultura de muita mesura e, sobretudo, de imenso receio de risco editorial, a figura de Ribeiro de Mello é hoje, ao mesmo tempo, a de um bizarro e castiço representante de uma época em que os cafés, as “tertúlias” e os “salões” de Lisboa eram arenas de combate, palcos de vaidades e locais de afincada preparação de livros e revistas, e a de um injustamente esquecido lutador por algo que vai rareando: a liberdade de estar contra, de estar à margem. Que o tenha feito simetricamente em dois regimes políticos antagónicos, num curto espaço de tempo e com resultados também diametralmente opostos, concorre para uma certa imagem “carrolliana” da travessia do espelho para “o outro lado”, sendo que, ao contrário de Alice, Ribeiro de Mello não teve a protecção e a orientação de nenhum cavaleiro branco na sua acidentada aventura editorial e pessoal no PREC e na ressaca deste depois da passagem através do “espelho” da Revolução de 1974 para um Portugal livre da censura e da PIDE.»
Pedro Piedade Marques, in Sobre este livro