a dignidade da diferença
31 de Janeiro de 2016

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Confesso que não consigo tomar uma posição definitiva sobre a adopção por casais homossexuais. Sobretudo porque não encontrei até hoje uma fundamentação suficientemente amadurecida quanto à sua substância. Para esta posição indefinida contribui também a circunstância de, segundo creio, não ter ainda havido um debate empenhado sobre uma matéria tão relevante e que trará profundas alterações no direito da família, à qual devo acrescer o facto de não serem conhecidos estudos cientifícos conclusivos sobre a matéria. Defendo sem reservas os direitos dos homossexuais; não obstante, neste caso entendo ser o direito das crianças adoptadas que está em causa. Neste sentido, observei com alguma preocupação a arrogância com que os partidos da esquerda maioritariamente representada no Parlamento acolheram as explicações do Presidente da República sobre o veto à lei da co-adopção. O romancista e ensaísta Claudio Magris, a propósito da natureza variável das convenções sociais, manifestou há anos uma série de inquietações que ainda hoje me parecem perfeitamente actuais e importantes. Magris sustentava, nesse ensaio, que os casais homossexuais negam a família e, simultaneamente, reclamam o direito de constituí-la. Aceitando a mudança das convenções sociais, Claudio Magris ia mais longe e acusava os casais homossexuais de falta de coragem. Com efeito, para ele, quem considera que a família não é o único nem o melhor ambiente em que pode crescer uma criança devia ter a audácia de propor que a adopção de uma criança não seja forçosamente por duas pessoas ligadas por um relacionamento sexual, questionando por que razão, seguindo essa linha de raciocínio, não pode também ser efectuada por um grupo de amigos ou uma comunidade, desde que formada por pessoas capazes de oferecer todas as garantias de que sabem tratar de uma criança. No entanto, tendo em consideração o mais recente comportamento da maioria parlamentar, duvido que haja condições para discutir as ideias a este nível…

18 de Janeiro de 2016

 

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«Em anos de consensos corporativos forçados, de realpolitik cultura de muita mesura e, sobretudo, de imenso receio de risco editorial, a figura de Ribeiro de Mello é hoje, ao mesmo tempo, a de um bizarro e castiço representante de uma época em que os cafés, as “tertúlias” e os “salões” de Lisboa eram arenas de combate, palcos de vaidades e locais de afincada preparação de livros e revistas, e a de um injustamente esquecido lutador por algo que vai rareando: a liberdade de estar contra, de estar à margem. Que o tenha feito simetricamente em dois regimes políticos antagónicos, num curto espaço de tempo e com resultados também diametralmente opostos, concorre para uma certa imagem “carrolliana” da travessia do espelho para “o outro lado”, sendo que, ao contrário de Alice, Ribeiro de Mello não teve a protecção e a orientação de nenhum cavaleiro branco na sua acidentada aventura editorial e pessoal no PREC e na ressaca deste depois da passagem através do “espelho” da Revolução de 1974 para um Portugal livre da censura e da PIDE.»

Pedro Piedade Marques, in Sobre este livro

 

11 de Janeiro de 2016

Cada cabeça, sua sentença. Dos álbuns gravados por David Bowie ao longo da sua carreira, cada um escolherá os seus preferidos. Ziggy Stardust & The Spider From Mars, de 1972, será o mais popular e (sobre) valorizado. Os mais atentos poderão reparar como a substância musical não acompanhava a ousadia da imagem e poderia até ser considerada como bastante conservadora, sobretudo quando comparada com a obra inicial dos extraordinários Roxy Music. Se decorridos tantos anos, pouco mais sobressai em Ziggy Stardust que um convencional e sólido conjunto de canções de feição rock, encontro com o futuro Bowie só o teria verdadeiramente a partir de 1977, durante a estratosférica trilogia berlinense (Low, Heroes e Lodger), experimentando novas formas e novos sons, redefenindo as coordenadas de uma fatia considerável da música popular que se faria daí em diante. No entanto, concluída uma série de gravações arriscadas, algo excessivas e desequilibradas - não obstante esse louvável princípio de permanente mudança -, onde talvez tenha pecado por uma digestão apressada de vários géneros (uma escuta recente de Alladin Sane, por exemplo, revelou-se algo decepcionante), gravou, um ano antes, um austero, belíssimo e singular disco, Station to Station, espécie de ponte electrónica apontada para a fase mais criativa da sua carreira. Após uma pouco memorável passagem pelos anos oitenta, Bowie gravaria ainda, em 1995, um estranhíssimo, fascinante e magnífico Outside, que considero provavelmente o seu derradeiro trabalho a merecer entrada significativa no cânone. Trata-se, porém, de uma questão de gosto individual. Com efeito, Bowie construiu uma icónica imagem de camaleão da pop e essa representação dificilmente a conseguirão apagar da nossa memória…

 

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Station to Station (1976)

 

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Low (1977) 

 

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Heroes (1977)

 

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Lodger (1979)

 

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Outside (1995)  

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:21 link do post
10 de Janeiro de 2016

 

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não me amputaram as pernas nem condenaram à fôrca,

não disseram de mim:

ele inventou a rosa,

contudo quando acordei a minha mão estava em brasa,

contudo escrevi o poema cada vez mais curto para chegar mais depressa,

escrevi-o tão directo que não fosse entendido,

nem em baixo,

nem em cima,

nem no sítio do umbigo que se liga ao sangue impuro,

nem no sítio da boca onde se nomeia o sopro,

e ficou assim:

económico, íntimo, anónimo

ou:

chaga das unhas cravadas na carne irreparável

Herberto Helder, in Servidões 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:38 link do post
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