Lágrimas e Suspiros (1973), um dos filmes centrais do cinema moderno, é uma das obras mais complexas do sueco Ingmar Bergman, bem como um dos seus êxitos mais inesperados. François Truffaut citava-o como sumo exemplo do filme que, embora apresentasse todas as características do filme maldito, alcançou um êxito mundial. Na sua génese está a lenta agonia de Agnes, uma mulher moribunda, torturada por um cancro, que, ajudada pelas suas irmãs, Karin e Maria, convive num ambiente mesquinho de ciúme, manipulação e egoísmo. Ou seja, tudo aquilo que o público geralmente recusa ver. O crítico e cineasta francês – como acaba de certificar a recente reedição do clássico Os Filmes da Minha Vida - entendia que, no caso de Lágrimas e Suspiros, «a perfeição formal do filme, e sobretudo a utilização da cor vermelha no cenário da casa, constituíram o elemento exaltante, ouso até dizer o elemento de prazer, graças ao qual o público sentiu imediatamente que estava perante uma obra-prima, decidindo vê-la com uma cumplicidade artística e uma admiração que equilibraram e compensaram o efeito traumático das lágrimas e dos suspiros da agonia de Harriet Andersson». A observação de Truffaut sobre este filme que possui uma capacidade rara para filmar o interior da alma parece-me ainda hoje uma óptima explicação para quem procura no cinema algo mais do que puro entretenimento.