Les Parapluies de Cherbourg (Os Chapéus-de-Chuva de Cherbourg), de Jacques Demy, será a alma gémea cinematográfica de Splendor in the Grass (Esplendor na Relva), de Elia Kazan, não obstante se afastar das obsessões eróticas nem se deixar inundar pela intensidade dramática deste último. Contudo, como mui acertadamente notou João Bénard da Costa, quando a seu tempo escreveu sobre o primeiro, «Geneviève e Guy amaram-se de um amor tão novo e tão carnal como os heróis de Kazan e também não foram capazes de resistir às famílias, às separações e às ausências. O tempo deles passou sem que eles se apercebessem da passagem. Casaram-se trocados, com o “boy next door” ou com a “girl next door”, os que souberam durar mais e persistir mais. E quando, no fim, se reencontram, ela de casaco de peles, ele na estação de gasolina, há a mesma tristeza inenarrável do último encontro de Natalie Wood e Warren Beatty». Não conheço muitos filmes tão iluminados por essa lucidez desencantada, por esse sabor agridoce, como sucedeu no musical cantado e encantado do cineasta francês – ancorado na magnífica música de Michel Legrand – ou invadidos por uma tensão no limite do suportável como acontece no sublime drama - a roçar a tragédia - de Elia Kazan, sobressaindo em ambos uma capacidade rara para utilizar a cor com força expressiva. Revi maravilhado, há dias, o primeiro e fiquei com uma vontade imensa de voltar a pegar no segundo.