Desta já de si reduzida escolha sobressai apenas o assombroso Cavalo Dinheiro, de Pedro Costa. Os restantes serão, na sua diversidade estética, formal e substancialmente muito bons. A esta lista acrescentaria talvez uma meia-dúzia de filmes estimáveis e nada mais merece destaque em 2014. O resto resume-se a uma confrangedora e generalizada falta de ideias e a uma preocupante disposição para a infantilização.

Wes Anderson, Grand Budapest Hotel

Pedro Costa, Cavalo Dinheiro

Jean-Pierre e Luc Dardenne, Dois Dias, Uma Noite

James Gray, A Imigrante

Pawel Pawlikowski, Ida 

Salvaguardando evidentemente tudo o que foi publicado e não tive oportunidade de ler, ver ou escutar, o que vou escrever tanto vale para livros, como para filmes e discos, e ninguém me convencerá do contrário. O ano que está quase a terminar terá sido pouco entusiasmante; entre reedições e novas edições, raras foram as obras que, escapando à tendência copista e à mediocridade generalizada, merecem ser recordadas pela sua originalidade. Em suma, uma escolha minimalista…

 Saul Bellow, Agarra o Dia

Hermann Broch, A Morte de Virgílio

Paulo Varela Gomes, Ouro e Cinza

Art Spiegelman, Maus

Xenofonte, A Retirada dos Dez Mil 

Uma jovem operária a sair de uma depressão está prestes a ser despedida de uma fábrica de painéis onde trabalha. O seu posto de trabalho depende da escolha que o patrão colocou de forma ignóbil nas mãos dos restantes trabalhadores: como não pode sustentar a massa salarial, estes terão que optar entre a permanência da colega ou o prémio de mil euros a que têm direito no final do ano. Esta é a história que nos conta Dois Dias, Uma Noite, o mais recente filme de Jean-Pierre e Luc Dardenne. Retrato minimalista e ultrarrealista do elaborado percurso de desumanização do mundo capitalista, no novo trabalho dos Dardenne proliferam os detalhes naturalistas, a depuração dos enquadramentos ou os longos planos-sequência para descrever o sofrimento continuamente repetido de Sandra (superiormente interpretada por Marion Cotillard) no confronto com os seus colegas - o bater de porta em porta em busca do necessário gesto de solidariedade. Um filme essencial para compreender as mudanças nas relações sociais e laborais quotidianas, nas quais o patrão transfere cinicamente para os seus trabalhadores o ónus do despedimento dos colegas. A luta de classes já não é o que era…

TANGENTE MÃO, PRELÚDIO DE UM BEIJO,

Ancinho que perpassa branda terra,

Leveza que alivia dura guerra,

Pureza que me rasas e eu desejo,

Tangendo se me tocas eu me envolvo

Como um bicho de conta que se anilha

E roda de brincar se faz, ervilha

Nas mãos de uma criança, adstrito polvo.

Ó nome que és na boca apertado,

Estreiteza que me cinge e me reduz,

Amálgama de bicho e sóror luz,

Ó silfo que és sentido e não pesado!

À letra tu me levas e te trazes

Ó deusa, e se és não deusa em mim te fazes.

Daniel Jonas, Nó

LIVROS

Agarra o Dia, Saul Bellow

Poemas Escolhidos das Irmãs Brontë, Charlotte, Emily e Anne Brontë

Toda a Mafalda, Quino

As Avenidas Periféricas, Patrick Modiano

A Retirada dos Dez Mil, Xenofonte (traduzido por Aquilino Ribeiro)

FILMES

The Grand Budapest Hotel, Wes Anderson

Fanny e Alexandre, Ingmar Bergman

Os Maias - Cenas da Vida Romântica, João Botelho

A Imigrante, James Gray

Ida, Pawel Pawlikowski

DISCOS

St Petersburg, Cecilia Bartoli

Sun Zoom Spark: 1970 to 1972 (4 CD), Captain Beefheart

The Bootleg Series Vol. 11 The Basement Tapes Complete (6 CD), Bod Dylan and The Band

Charlie Haden - Jim Hall

Amélia Com Versos de Amália, Amélia Muge