«Onde Pára o Estado? Políticas Públicas em Tempo de Crise», organizado e coordenado por Renato Miguel do Carmo e João Rodrigues, já foi publicado em 2009. Desde então, as principais questões que sobressaem no livro mantêm a sua pertinência e actualidade. Como garantir a sustentabilidade e a estabilidade financeira do Estado, defender a justiça social e promover o crescimento económico? Sucede que a maioria das respostas dos políticos e dos agentes económicos descai frequentemente para a demagogia ou para as conclusões apressadas. Não obstante, não se deixem enganar: independentemente do modelo político-económico idealizado, evitar o desperdício dos recursos disponíveis e alcançar o ponto de equilíbrio entre investimento privado e intervenção pública, incentivando o crescimento económico sem impedir a justiça e equidade social, continua a ser uma das tarefas mais difíceis de fazer e concretizar. Ora vejamos: «Se há algo que a actual geração aprendeu, foi que crescimento económico não significa necessariamente maior justiça social. A própria criação de empregos, embora vital, por si só não garante a diminuição do fosso socioeconómico. O que separa um Estado neoliberal de um Estado neo-social é que para este último, mesmo em períodos de crescimento económico nulo, ou até especialmente nestes, é prioritário atender ao problema da desigualdade através de políticas reformistas, tendentes à maior eficiência e maior equidade nas áreas do sistema de impostos, da segurança social, da saúde e da educação. (...) No fundo, o que está aqui em jogo é que resposta dará a nossa geração à questão de se a prioridade da acção do Estado deve ser concedida ao imperativo da estabilidade macroeconómica se ao imperativo político da cidadania social. Tal questão não admite meias respostas. A escassez de recursos impede que se possa ter o melhor dos dois mundos. Ou se opta por um modelo de organização da vida colectiva inspirado no mercado e, por conseguinte, se aceitam as desigualdades como uma consequência «natural» e inevitável de um bem maior (crescimento da economia), ou, pelo contrário, se escolhe um modelo orientado pelo ideal político de justiça e equidade social, mesmo que o crescimento agregado da economia seja imperceptível nos próximos anos. (...) Penso que a escolha da nossa geração recairá sobre esta segunda opção, a opção por um Estado neo-social.»