a dignidade da diferença
27 de Abril de 2014

 

brasileducom.blogspot.com

 

«Infelizmente, não tiveram uma magnanimidade comparável no momento da vitória americana na Guerra Fria. A reacção de muitas pessoas influentes perante a derrocada do império russo foi caracterizada pelo triunfalismo. Pareciam acreditar que o “mundo livre” tinha ganho e que era dever dos Russos aceitar as consequências e reorganizar a sua sociedade de acordo com um modelo mais aceitável. O facto de se tratar de um país orgulhoso com um historial ilustre que merecia simpatia e respeito num momento de necessidade não parece ter cruzado as mentes de algumas pessoas. Em vez disso, a Rússia foi tratada como um Klondike tardio, cheio de recursos naturais, mesmo a pedir uma corrida ao ouro. Claro que nem todos os russos perderam nesses anos caóticos. Fizeram-se fortunas e foram construídas bases de poder que irão provavelmente dominar a vida russa durante muitos anos. No entanto, para o russo comum, foram tempos de sofrimento e de humilhação nacional. A reacção de alguns americanos foi para além de uma mera celebração da vitória do “modo de vida americano” sobre os que seguiam uma filosofia rival. Para alguns (…) foi um triunfo dos “valores americanos” e da maneira americana de organizar a sociedade, triunfo esse que se impunha sobre todas as versões alternativas, do passado e do presente. Em 1992 (…) Francis Fukuyama criou uma expressão para designar o que tinha acontecido: “o fim da história”. Este conceito sedutor encorajou muitas pessoas a acreditarem que a combinação de organização capitalista e de instituições representativas que surgiu nos Estados Unidos nos 200 anos posteriores à Declaração de Independência era o objectivo natural da sociedade humana e a única coisa que faltava fazer era providenciar a sua instalação nas partes do mundo que ainda não tinham visto a luz. No seio do governo americano, um grupo de sonhadores entusiásticos fez planos para a chegada deste novo milénio. Esses sonhadores chamaram ao seu empreendimento “Projecto do Novo Século Americano”. Era um nome tão bizarro que nem se prestava a ironias.»

Cyril Aydon, The Story of Man – An Introduction to 150,000 Years of Human History

20 de Abril de 2014

 

 

Aníbal Fernandes apresenta modelarmente Henry James como alguém que «escreveu ao contrário dos êxitos literários do seu tempo. Numa época de leitores a preferirem histórias com surpresas de percurso, pôs um grande talento de escritor ao serviço de uma corrente calma, discreta e a espalhar-se num extenso número de páginas, entravada por análises psicológicas de personagens distanciadas, na cultura e nos confortos, do homem mais comum nesse final do século XIX». Contudo, através da editora Sistema Solar, prefere, entre outras obras do celebrado escritor, publicar e traduzir magníficas ficções curtas tais como Os Manuscritos de Aspern, O Mentiroso e O Aperto do Parafuso. Se na verdade o autor não se estende nestas pequenas obras por um extenso número de páginas, também não perde nenhuma das suas principais características literárias. Sobrepondo sempre à história uma detalhada construção psicológica das personagens, Henry James acrescenta ainda uma esmerada elaboração coreográfica dos diversos conflitos, desenvolve o ritmo e a justa medida das frases, domina a elipse na perfeição, valoriza a substância e o sentido da prosa, descreve magnificamente os locais e revela, por fim, uma capacidade única para adaptar o espaço às necessidades de evolução dramática. Exemplar.

 

13 de Abril de 2014

 

 

Agora que estamos envolvidos em mais uma polémica, desta vez entre a segunda figura do Estado e os Militares de Abril (mais os sinais saudosistas do ex-Presidente da Comissão Europeia em relação ao sistema de ensino do Estado Novo), nunca é demais recordar e agradecer a acção determinante destes últimos para acabar com um regime ditatorial responsável, por exemplo, pela criação, a partir da PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), de uma polícia política – a PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado), a qual, a partir de 1969, mudaria o nome para Direcção Geral de Segurança (DGS) – cujo comportamento criminoso foi o espelho da doutrina ideológica que orientou toda a actividade governativa desse regime repressivo e dos seus actores políticos.  E não convém ainda esquecer a decisão dos militares de regressar, anos mais tarde - muito cedo, no entanto, quando comparado com situações semelhantes noutros países -,  exclusivamente à vida dos quartéis, entregando os destinos do país à sociedade civil. Para convocar consciências, instruir os ignorantes e recuperar a memória dos que sofrem de amnésia, nada melhor que a leitura de A História da PIDE, o notável e laborioso trabalho da historiadora Irene Flunser Pimentel. Fica-se a conhecer, nesta obra, a conduta repressiva da PIDE em relação a quem ousasse contestar o regime (os adversários); a sua relação com o Estado; os métodos utilizados, desde a vigilância à investigação, sem esquecer as modalidades de tortura e as suas vítimas. Uma obra de investigação essencial, embora, quando procura fazer um registo exaustivo dos detalhes, caia, por vezes, numa análise excessivamente minuciosa, não evitando algum cansaço a quem decide investir o seu tempo em tão importante aprendizagem. Mas o balanço final é francamente positivo.

06 de Abril de 2014

Um livro indispensável para se aprender a usar correctamente a nossa língua materna, enquanto «organismo vivo em permanente evolução», a qual, segundo as autoras, é encarada nesta obra de duas perspectivas distintas, mas que se completam: como meio de comunicaçao e como objecto de estudo. Determinante para quem pretende desenvolver a clareza de discurso e de raciocínio, trata-se de um trabalho especializado, embora acessível, que se destina sobretudo a cidadãos e muito pouco a meros consumidores.

 

 

«Obrigatório é conhecer o funcionamento da língua, suas regras e excepções, para não se cair no ridículo de dizer e escrever «as bolsas caiem por causa da guerra» ou «hádem fazer o que for necessário para resolver a crise»; «tolerável» pode ser a opção pelo género masculino de personagem, «Rogério Samora representou bem o personagem»; de «emprego facultativo» pode ser a escolha entre estadia e estada, seja em relação a pessoas, seja em relação a navios; «grosseiro» é confundir adesão com aderência, ir ao encontro de com ir de encontro a, preferir massivo a maciço; «inadmissível» é que «hajam tantas pessoas a maltratar a sintaxe do verbo haver». A aprendizagem da língua materna não se reduz à simples aquisição de conhecimentos, pois é factor indispensável para a formação de uma personalidade intelectual, social e cultural, capaz de aprender, de intervir socialmente, de evoluir linguisticamente e de se adaptar a todas as situações de comunicação. Sendo a língua materna simultaneamente objecto e instrumento de aprendizagem e meio de acesso a múltiplos saberes, o domínio que dela se possa ter condiciona o êxito individual. Aprender a falar e a escrever é aprender a comportar-se como ser humano. É um meio para aceder à plena cidadania. Falar não é só saber articular os sons. É saber organizar e exprimir com clareza o pensamento. Escrever é uma técnica que evolui e se consolida com a prática continuada. É um facto: prendemos a falar, falando e a escrever, escrevendo. E aprendemos a falar e a escrever, lendo e comunicando.»

Edite Estrela, Maria Almira Soares e Maria José Leitão, Saber Escrever Saber Falar.

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