Confesso que a música dos Everly Brothers nunca me agradou especialmente. Demasiado agarrada ao espírito da época, consistia numa preocupação excessiva com as harmonias vocais, amparadas em bonitas mas algo inócuas melodias e demasiado presas a um conceito estético despropositadamente pueril e juvenil, inconsistente e por desenvolver. Bonnie ‘Prince’ Billy e Dawn McCarthy – que criou, com Nils Frykdahl, os excelentes e praticamente desconhecidos Faun Fables –, recolhendo os ensinamentos da pop/folk profunda e clássica dos anos sessenta e setenta; a dos Jefferson Airplane, dos Steeleye Span e, especialmente, da trupe dos Fairport Convention (com Sandy Denny e Richard Thompson à cabeça), pegaram nas canções menos conhecidas que os Brothers criaram ou apenas interpretaram, e releram-nas sob uma nova perspetiva. Descobriram e associaram-lhe novos elementos sonoros, modificaram-lhe as arestas, pesaram e ampliaram-lhe o volume e desenvolveram a sua carga dramática, transformando quase milagrosamente as características exageradamente açucaradas da matriz original – indicada para duplas do género Simon & Garfunkel, uns anos antes de mudarem o curso da história da música pop, com as magníficos Bookends e Bridge Over Troubled Water –, num conjunto soberbo de peças musicais densas, elétricas, inesperadamente livres e amadurecidas. Ao disco chamaram-lhe apropriadamente What the Brothers Sang.