César Deve Morrer: a arte como expressão sublime da liberdade numa peça de Shakespeare (Júlio César) representada e encenada por um grupo de presos. Após a máxima expressão artística, acontece a recolha à pequenez das suas vidas no momento em que as luzes se apagam. Eis um belíssimo retrato sobre a forma como aquelas vidas vazias se transformam e se complementam precisamente num dos locais mais imprevistos. Faltei à estreia do filme quando aquela ocorreu nas salas de cinema mas agora não deixei que este me escapasse (na recente edição em DVD da Alambique). Uma obra meritória, expressiva e particularmente inesperada sobre a angústia e a conduta humana, cujo maior feito formal será porventura o prodígio da montagem na transformação do ambiente claustrofóbico da prisão na dimensão luxuriante dos salões romanos. Onde menos se esperava, o cinema contemporâneo possui essa capacidade rara de se reinventar. Quem o assinou foram os irmãos Taviani. Para que conste.