«Não há provas de que a violência nos filmes ou na televisão provoque violência social. Procurar atirar as responsabilidades todas para cima da arte como causa de vida parece-me uma maneira de fugir ao problema… ignorando as suas principais causas. A arte remodela a vida mas não a cria, não a produz. Além disso, atribuir grandes capacidades de sugestão ao cinema choca com a experiência cientificamente comprovada segundo a qual, mesmo após uma hipnose profunda, em estado pós-hipnótico, uma pessoa não pode ser levada a fazer coisas que choquem com a sua própria natureza. Portanto, não aceito essa conexão casual vida-cinema. Mesmo supondo que assim fosse, eu diria que o tipo de violência que um impulso imitativo pode causar é um tipo “engraçado”: a violência que vemos nos filmes de James Bond ou nos desenhos animados de Tom e Jerry. Violência irrealista, higienizada, apresentada de forma burlesca… mas estou convencido de que nem isto tem realmente um efeito. Aliás, quase, quase dou razão à ideia segundo a qual efetivamente todo o tipo de violência no cinema tem um fim social útil, permitindo que as pessoas descarreguem, em jeito de substituição, emoções e instintos agressivos escondidos, que se exprimem melhor nos sonhos ou no estado onírico quando se assiste a um filme, do que em qualquer forma de realidade ou de sublimação.»