Intencionalmente despidas da força significativa das palavras e superiormente interpretadas pela Liberation Music Orchestra – fundada em 1969 por Charlie Haden, um dos melhores contrabaixistas da história do jazz -, as canções revolucionárias que preenchem maioritariamente este magnífico The Ballad of the Fallen, de 1983, (onde está a «nossa» Grândola Vila Morena) adquirem, por outro lado, uma dimensão estética assinalável e particularmente inesperada para aqueles ouvidos mais fechados que, regra geral, se preocupam excessivamente com a vertente política e contestatária das canções - cuja importância (e peso histórico) não deve ser, obviamente, afastada - e esquecem a substância musical adjacente. A inesgotável diversidade e a subtileza estilística, o rigor da escrita, o imaginário poético, a singular articulação de diversos registos - cuja aptidão unificadora consegue combinar naturalmente climas tensos criados pela dissonância dos acordes com momentos do mais profundo lirismo -, a capacidade de improviso, o ritmo e a cadência musical, conduzem um conjunto sobejamente conhecido de «canções da rua» rumo a uma nobreza expressiva que lhes acrescenta anos de vida e cuja marca mais distintiva consiste na formidável substituição da eloquente linguagem verbal pela explosiva e complexa gramática musical, ampliando as qualidades musicais que estas canções já possuiam na sua matriz original.