They Live, realizado em 1988, é uma das obras mais amarguradas e pessoais do seu autor, o maverick John Carpenter. Aproveitando uma história onde extraterrestres se escondem atrás de máscaras humanas, dominando a América através de mensagens subliminares que só poderão ser detetadas por meio de óculos especialmente fabricados para o efeito, Carpenter testemunha e denuncia a standardização comercial e a uniformização de pensamento, a estupidez de quem se resigna com o consumo banal de fórmulas pré-fabricadas, e confronta-se com o conservadorismo e a apatia excessivos, revelando a tensão e o medo de uma realidade filmada a preto e branco. Fá-lo de uma forma portentosamente eficaz, explorando ao máximo o mínimo de recursos disponíveis, num exemplo maior de frontalidade e integridade artística, de economia narrativa na apresentação da história e das personagens, do modo como usa o espaço (o subterrâneo, sobretudo), os movimentos de câmara ou a montagem. Filme sombrio e independente, crítico feroz da América como modelo de um capitalismo selvagem, radical e detestável, They Live, cada vez mais atual - e está aí a passagem do tempo para o confirmar - é um dos grandes filmes políticos da história do cinema, um intenso libelo pela defesa da liberdade.