Há música de que gostamos muito mas da qual, por falta de tempo ou de espaço, não tivemos oportunidade de falar na devida altura, ou seja, no momento em que se deu a conhecer ao mundo. Este disco de Bugge Wesseltoft, intitulado Playing, já é de 2009 – embora suponhamos que no nosso país apenas foi lançado em 2010 – e é uma pequena maravilha, à qual apetece voltar repetidas vezes. Trata-se de um registo introspectivo com um subtil acento electrónico, uma releitura da tradição com a louvável e conseguida intenção de lhe oferecer um enquadramento contemporâneo através de um eloquente cunho pessoal. No fundo, uma síntese belíssima das matrizes musicais de Charlie Parker ou de John Coltrane, passadas pelo crivo de Miles Davis (o de Kind of Blue) e do piano de Bill Evans, revistas pela sóbria maturidade musical de Wesseltoft e espelhadas no seu temperamento nórdico e na sua alma cheia de blues. Um candidato legítimo a futuro clássico.
Singing