Laura Marling é, com apenas 21 anos de idade, uma das mais expressivas e talentosas songwriters da actualidade. Umbilicalmente ligada à cena nu-folk londrina – seja lá o que isso for –, Laura Marling possui, desde já, um domínio perfeito da estética folk, cuja formação musical se desenvolveu, segundo a própria, através da escuta persistente das colecções de discos que os pais detinham. Herdeira da melhor tradição folk dos anos 60 e 70 do século passado e sobretudo do génio emocional transcendental de Judde Sill e de Leonard Cohen, filtrado por micro-explosões eléctricas que, em regime de usufruto simultâneo, coabitam com suaves melodias de feição acústica esventradas pelo cinismo e pela mordacidade dos seus (quase todos) magníficos textos, Laura Marling confirma, depois do anterior e igualmente notável I Speak Because I Can, um talento precoce que constrói um dos mais pessoais, emocionais, inventivos e intensos percursos musicais da actualidade, assente no entendimento correcto do uso que deve dar à sua voz como elemento adaptável às necessidades básicas da canção, acompanhado pelas enxutas, certeiras, maleáveis, tensas e sujas orquestrações instrumentais que dedicam uma especial atenção ao espaço, ao volume e à tonalidade. Um talento precoce que contribui para a consagração merecida daquele que, como vimos sublinhando há vários meses, deverá consagrar-se como o ano musical das mulheres, na medida em que ainda temos para acrescentar o regresso de St. Vincent, a dose dupla de June Tabor (desta vez com a Oyster Band, num registo folk-rock que perdeu o acento tónico que Freedom and Rain pôs no punk mas é igualmente brilhante) e o novo trabalho da magnífica Shara Worden (My Brightest Diamond).