O escapismo sempre funcionou legitimamente para a grande maioria das pessoas como a melhor forma de atravessar os problemas mais difíceis das suas vidas. No período da Grande Depressão, o cinema encontrou no génio coreográfico de Busby Berkeley uma das formas mais eficazes para entreter a população. Perante a crise e a dura realidade, Berkeley respondia com a delirante fantasia. Um conjunto de histórias simples, sob pano de fundo musical e em tom ligeiro de comédia, foram a alavanca para a prodigiosa imaginação de Busby Berkeley - sobretudo Rua 42 e Orgia Dourada. Da sua cabeça deslizaram para o cinema algumas das ideias visuais mais fulgurantes da sua história; nele, era a câmara que tomava conta dos acontecimentos: ângulos impossíveis, corpos dançantes desafiando escalas, movimentos simétricos e planos picados sobre as bailarinas, configuram uma assombrosa sequência de imagens sensuais e semi-abstractas. Nos seus anos dourados, Berkeley possuía um talento admirável, ousado e elegante, cuja natureza visual contribuiu largamente para modificar a nossa forma de compreendermos culturalmente aquilo que vemos. Ao contrário do que supõe quem ocupa actualmente o seu tempo com A Casa dos Segredos e os gordinhos da Bárbara Guimarães, o melhor entretenimento sempre foi inteligente. Faltando nos dias de hoje um talento genuíno, não há como regressar ao passado. É difícil não ficarmos paralisados perante uma cena destas…