Elias Canetti, prémio Nobel da literatura, romancista e ensaísta, nascido em 1905, numa pequena cidade portuária da Bulgária (Ruse) - autor cuja importância foi comparada à de alguns dos maiores escritores do século XX como, por exemplo, o genial Robert Musil (autor desse espantoso e incompleto O Homem Sem Qualidades), Hermann Broch, ou Karl Kraus -, escreveu um único romance intitulado Auto-de-Fé, objecto literário singularíssimo, assente no original percurso linguístico do seu autor, que, a crer no que sobre ele se escreveu, reflecte uma visão avassaladora do mundo, centrando-se nesse verdadeiro auto-de-fé como é a destruição de livros, e narrando a trágica história do protagonista, o filólogo Peter Kien, mais a sua imparável descida ao inferno. Desconhecíamos até à data a sua obra, mas ficámos com imensa vontade de ler esta obra, sobretudo pelo que revela a contracapa do livro:
Auto-de-fé narra a história do professor Peter Kien, erudito especializado em sinologia, proprietário da maior biblioteca privada da cidade. É no seu apartamento, rodeado de livros, que Kien se refugia, evitando todo e qualquer contacto físico e social. Misantropo, solidário, excêntrico, Kien é um ser «composto de livros», interpretando o mundo através da sua vasta biblioteca, que transporta zelosamente consigo, armazenada no interior da sua cabeça. O ponto de viragem da sua vida é o casamento com Teresa, a sua ignorante e ávida governanta. Expulso da sua própria casa, Kien é obrigado a percorrer o mundo exterior, travando conhecimento com inúmeros dos seus personagens, que o acompanharão neste seu longo exílio. Figuras sombrias, medíocres, grotescas e memoráveis, como o anão Fischerle e a prostituta, sua mulher, ou o porteiro Pfaff. Pela mão destes, Kien, julgando controlar a situação, descerá pouco a pouco ao inferno, apressando o passo para um final sublime e trágico: um verdadeiro auto-de-fé.