«Rainer Maria Rilke (1875-1926), poeta de dimensão universal, nascido em Praga quando esta cidade ainda pertencia à Áustria, tendo vindo a morrer na Suíça, ergueu na sua obra maior As Elegias de Duíno a grande sinfonia da sua vida e do seu tempo, percorridos pela inquietação e pela angústia, dilacerados pela I Guerra Mundial, envoltos nas vagas das novas filosofias – Kierkegaard, Nietzsche, Bergson -, atraídos pelas novas descobertas no campo da psicologia humana – Freud – e no campo da ciência e da tecnologia. Se a vida e a morte impressionam profundamente a sua sensibilidade, não menos o fazem o amor e a dor, a alegria e a tristeza. Na genial e dolorosa experiência da escrita de As Elegias de Duíno, Rilke encontra o elo de união entre todas essas realidades diversas e o tom elegíaco, expresso em ritmos livres, dá lugar ao tom elegíaco-hínico, uma vez que o equilíbrio encontrado se exalta e proclama. A amplitude dos versos ora se expande ora se concentra num ritmo mais sincopado que inclui elipses e alterações da estrutura sintáctica. Rilke dá continuidade, nesse tom elegíaco-hínico, à herança de Hölderlin, poeta que lê fascinado e a quem dedica um poema de homenagem em Setembro de 1914, que noutro lugar divulgámos em nova tradução.»
Maria Teresa Dias Furtado, introdução a As Elegias de Duíno, Assírio & Alvim.