Remorso Póstumo
Quando um dia dormires, ó bela tenebrosa / No fundo de um jazigo de mármore negro, / E quando só tiveres por alcova ou conchego / Essa fossa vazia, essa cova chuvosa;
Quando a pedra, oprimindo o teu peito medroso / E os teus flancos agora indolentes, privar / Esse teu coração de bater e de amar, / E os teus pés de seguir um curso aventuroso,
O túmulo, que sabe todos os meus sonhos / (porque sempre o coval há-de entender o poeta), / Nessas noites sem fim onde já não há sono,
Dir-te-á: «De que serviu, cortesã incorrecta, / Nunca teres conhecido o que choram os mortos?» / - E os vermes vão roer-te a pele como um remorso.
Baudelaire, As Flores do Mal, assírio & Alvim, tradução de Fernando Pinto do Amaral.