E, com mais este capítulo, continua a saga em busca dos discos de verão um tanto ou quanto esquecidos. Eis, então, a oportunidade para recordar dois óptimos exemplos das consequências trazidas pela descoberta e abertura, em meados da década de 90 do século passado, da arca do easy-listening. Entre autênticas velharias que nunca deveriam ter saído da sucata, pequenos e esquecíveis fait-divers ou meras curiosidades descartáveis, o que ficou e valeu realmente a pena foi a recuperação de algumas belas antiguidades, indiscutíveis preciosidades que, onde menos se esperava, provocaram subtis rupturas estéticas com o paradigma sonoro da época, as quais não deixaram simultaneamente de cumprir a sua função de música refrescante para o solstício de verão.
O efeito bola de neve resultou e a segunda metade da referida década trouxe alguns belos exemplos de «música para arrefecer temperaturas» como foi o caso, por exemplo, de Gemini (de 1999) de Sven Van Hees e de Whiskey (de 1996) de Jay-Jay Johanson. O primeiro transporta quem o escuta directamente para o paraíso de uma ilha deserta, meditando sobre coisa nenhuma sob o efeito crepuscular de lentas vibrações electrónicas de matriz «jazz com gin tónico». O músico sueco oferece um registo crooner inspirado no encontro de Frank Sinatra com o drum'n'bass, cujo resultado abraça delicadamente um cocktail de bossa nova com sabor a mentol, Portishead estaladiços e melodias alcoolicamente melancólicas que, ainda hoje, ajudam a passar este verão e, pelo menos, o que há-de vir.
Jay-Jay Johanson, "I Fantasize Of You"
Sven Van Hees, "Ocean Jive"