«É sabido que só há uma maneira mais eficaz do que abrir um livro para evitar uma conversa numa sala de espera, que é abrir um livro de matemática. A simples menção da palavra «matemática» infunde calafrios, terror, e pode reconduzir o adulto mais seguro aos tremores de uma divisão com fracções e a outros pesadelos numéricos da infância. E apesar de o pensamento matemático ter deixado nas chamadas Humanidades as suas impressões digitais por todo o lado, dos pitagóricos ao Círculo de Viena, da aposta teológica de Pascal à ética segundo a ordem geométrica de Espinosa, dos primeiros princípios de Descartes ao teorema de Gödel, e apesar de a matemática ter provado ser ao longo da história uma ciência inacreditavelmente mutável e proteiforme, tudo parece ter sido em vão, e a imensa maioria continua a confundi-la com esse fragmento bastante enfadonho que se ensinava (ensina?) nos estabelecimentos do ensino secundário».
Martínez, Guillermo, Borges e a Matemática, 1.ª Ed., 2006, Âmbar, Trad. De Miguel Serras Pereira