a dignidade da diferença
31 de Agosto de 2010

 

Beethoven: Sonatas para piano, Vol. I a VIII, András Schiff (2008)

 

 

As sonatas para piano de Beethoven acompanham a sua evolução musical enquanto compositor de excepção. Desde uma primeira fase em que se revelam demasiado dependentes da tradição clássica, passando por uma fase intermédia mais madura e diversificada, cobrindo um amplo conjunto de formas e estilos. A fase final do genial compositor caracteriza-se por um desenvolvimento dos temas até ao limite, absorvidos por um ambiente contemplativo.

András Schiff esperou uma vida para a gravação integral (em oito volumes) das 32 sonatas para piano de Beethoven. Nas mãos do intérprete húngaro a música de Beethoven revela-se de uma tensão e concentração portentosas, questiona-se e amadurece no silêncio das notas, na sabedoria de uma expressividade que só vem com o tempo. Admirável e irrepetível.

 

 

 

29 de Agosto de 2010

 

O grupo parlamentar do CDS quis saber quanto gasta o nosso Governo, anualmente, com as rendas e questionou todos os ministérios que contratos de arrendamento – e quais os valores – foram celebrados nos últimos cinco anos. Nem todos responderam, mas sobre o que se sabe vale a pena reflectir.

O semanário Expresso fez, na edição deste fim-de-semana, uma análise aos gastos do Estado com o arrendamento de imóveis que vendeu a si próprio (!). Para se compreender o estado de completo desnorte a que os nossos governantes chegaram nestas questões de «engenharia financeira», veja-se estes casos exemplares que o semanário conta:

 

 

«Está nesta situação, por exemplo, o edifício da Avenida da República que alberga a secretaria-geral do Ministério da Economia. O imóvel foi vendido em 2008, por €10,7 milhões, à Estamo. Os serviços que lá estavam lá continuaram e, segundo explicou ao Expresso o gabinete de imprensa do Ministério da Economia, está atualmente em negociação um contrato de arrendamento, pelo valor mensal de 69.400 euros (832.800 euros por ano). Feitas as contas, Albino Bessa nota que é um excelente negócio para o comprador: o investimento 10,7 milhões está pago ao fim de doze anos. No Ministério da Agricultura há três casos parecidos: dois imóveis vendidos na anterior legislatura por 5 milhões, e outro por 7,4 milhões, todos comprados pela Estamo. Pelos primeiros, o ministério ficou a pagar uma renda de €33 mil, pelo último paga quase €50 mil. As contas são parecidas: ao fim de doze anos a Estamo recebeu em rendas o valor pago.»

 

 

Ou seja, dentro de doze anos, o Estado gastou o que ganhou e a partir daí, as contas parecem-me fáceis de fazer, o Estado terá mais uma despesa a acrescentar a tantas outras. Trata-se, como é evidente, de mais um caso demonstrativo das vistas curtas e do pensamento a curto prazo de quem nos governa. A factura todos sabemos quem a pagará…

 

publicado por adignidadedadiferenca às 19:31 link do post
27 de Agosto de 2010

 

S. Vicente de Ferreira

 

Parque Terra Nostra

 

À procura de golfinhos...

 

Uma pequena recordação da viagem que fiz, no mês de Junho do ano passado, à ilha de S. Miguel, nos Açores. Apenas um pretexto para dar algum uso à máquina e tirar as fotografias do baú do esquecimento. Puro amadorismo, obviamente.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:49 link do post
26 de Agosto de 2010

 

 

Reunidos numa banda só (GNR): acuidade melódica, espírito transgressor, poesia sónica, fonética moderna com que lidamos todos os dias, instinto e concisão pop, e o melhor e mais arrojado escritor de canções que este país viu nascer na segunda metade do século vinte (Rui Reininho). Piloto Automático, de Defeitos Especiais, é um magnífico exemplo.

 

 

Piloto Automático

 

Quando soa a meia noite

Começo a capotar

Há um monstro dentro de mim

Que eu procuro envenenar

 

Rezo a Baco uma oração

Sinto o fígado a explodir

Em cada gole uma opção

Um desejo de virar

 

Com: whisky puro

Sangria

Vinho maduro

Xerês d'Andaluzia       vodka vodka

Bagaceira

Ginvómito

Seco madeira

 

Ligo o piloto automático

No programa esquecer

Dissolvido num luar

Até ao amanhecer

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:44 link do post
25 de Agosto de 2010

 

 

Voltemos às coisas sérias. No próximo dia 20 de Novembro fará precisamente 100 anos que Tolstoi morreu na estação ferroviária de Astapovo. No ano da efeméride, o JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias recorda o seu legado com a publicação de um ensaio de Filipe Guerra, que tem traduzido grande parte da obra do genial escritor russo, a divulgação do testemunho de António Pescada – outro conhecido tradutor de Tolstoi - sobre o seu mais recente trabalho: converter para a nossa língua a obra-prima Guerra e Paz. O quinzenário inclui ainda uma curta mas útil biografia, assim como um texto dedicado à recepção da obra do autor no nosso país.

Na esteira da comemoração que o JL antecipa, nunca será tarde para conhecer, ou recordar, o requinte e a densidade humana (e psicológica) dos textos de Tolstoi, o assombroso escritor que, um dia, decidiu sacrificar a extraordinária carreira literária, a felicidade da sua mulher e a tranquilidade da vida familiar, por uma vida austera própria de quem pretende seguir rigorosamente os princípios morais cristãos.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 20:42 link do post
24 de Agosto de 2010

 

 

Um título impagável, sem concorrência à vista, fruto da portentosa imaginação destes reis do acordeão, instrumento explorado em toda a sua versatilidade (com a devida vénia ao jornal i).

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:31 link do post
24 de Agosto de 2010

 

 

Recomenda-se, desde já, e sem hesitações, o recente livro de António Pires, notável divulgador entre nós das músicas do mundo, intitulado «Raízes e Antenas, Mistérios e Maravilhas da World Music», o qual, como não podia deixar de ser, reúne 200 textos sobre «world music», que nos ajudam a alargar os nossos horizontes musicais, assim como a compreender a sua imensa riqueza e actualidade estética e musical.

O jornalista (e autor do excelente blogue «Raízes e Antenas») apresentou a obra na mais recente edição do Festival de Músicas do Mundo de Sines (ver mais aqui).

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:25 link do post
21 de Agosto de 2010

 

 

O quinteto Zelig, que agora publica este óptimo «Joyce Alive!», formou-se no final de 2006 quando se juntaram a Peixe (guitarra e ocasionais arranjos de sopros) e a Eduardo Silva (contrabaixo) Nico Tricot (flauta, teclado, sampler, serrote e percussão), António Serginho (marimba, vibrafone e diversas percussões) e José Marrucho (bateria).

Absorvendo o espírito e a visão estética de cada um dos seus membros, o quinteto criou uma estrutura sonora singular, ziguezagueante que aponta em diversas direcções musicais e, tal como o personagem criado por Woody Allen, muda de pele consoante a atmosfera que a envolve.

Uma obra de fôlego assente em pedaços de jazz, sonhos de surf rock, fitas magnéticas de Carl Stalling, pincelada aqui e ali pelos Naked City mais agrestes e convergindo, por vezes, para uma espécie de Flat Earth Society em momento de descontracção após intensos discursos de agitação sonora, espreguiçando-se nos devaneios cinematográficos de Morricone e John Barry.

A música portuguesa – que, este ano, já nos trouxe o regresso do romantismo quixotesco dos Pop Dell’ Arte, o segundo disco dos AbztraQt Sir Q, o belíssimo e tradicional trabalho dos Galandum Galundaina, a visão solitária de Lula Pena e o delicioso «V» de Tiago Guillul, entre outros trabalhos menos relevantes mas francamente interessantes – passa por um momento bom.

 

Zelig ao vivo no Cinema Passos Manuel

 

 

18 de Agosto de 2010

«A Biblioteca de Babel» é uma colecção de literatura fantástica escolhida e dirigida por Jorge Luis Borges que, no caso concreto, reúne três magníficos contos russos de Dostoievski, Andréev e Tolstói: «O Crocodilo – Um Acontecimento Extraordinário», onde Doistoievski antecipa o obsessivo universo de Kafka, «Lázaro» do surpreendente e praticamente desconhecido Leonid Andréev, que, nesta obra, escreve sobre o regresso de Lázaro ao mundo dos vivos para nos contar a sua visão do mundo inconstante, frágil e desencantado que observa; e, por último, «A Morte De Ivan Iliitch», assombroso retrato moral do protagonista saído da pena do conde Tolstoi.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:42 link do post
17 de Agosto de 2010

 

 

Cinco anos depois de Ossessione (1943), filme-charneira do neo-realismo, Luchino Visconti volta, aparentemente, a abraçar a corrente estética neo-realista com La Terra Trema. E se, por um lado, o filme revela a costela comunista do cineasta natural de Milão – não se fala de outra coisa que não seja a exploração do homem pelo homem, ou seja, no caso concreto, da luta e da exploração dos pescadores sicilianos -, por outro lado, Visconti rejeita o simplismo dos «amanhãs que cantam», sobrepondo a sua visão pessimista e o seu humanismo desencantado.

É certo que o filme vive muito do improviso e do naturalismo, contudo, erguendo-se contra o rudimentar e genericamente aceite neo-realismo da época, habita no seu corpo um notável e apurado sentido cénico e operático, fruto da formação teatral do cineasta, que será a matriz estética dos seus filmes futuros. Visconti revela nesta obra um domínio profundo da sua estrutura formal, assente na complexidade dos planos e no requinte da mise-en-scène, os quais serão magnificamente explorados, entre outros, nos posteriores e magistrais Senso (1954), Rocco e I Suoi Fratelli (1960) e Il Gattopardo (1963).

E eu, burro, convencido que estava de conhecer o essencial da obra cinematográfica de Visconti, vi e deslumbrei-me com este filme, pela primeira vez, no passado mês de Julho.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:47 link do post
15 de Agosto de 2010

 

Deixo-vos um exemplo maravilhoso, retirado do romance Dom Casmurro (1899), do humor e da ironia próprios do talento literário do escritor brasileiro Machado de Assis, o qual, nos seus melhores momentos, plenos de acidez, desfazia literalmente as mais respeitadas personalidades da sociedade, dando a conhecer as suas mais dissimuladas imperfeições.

 

«Custa-me dizer isto, mas antes peque por excessivo que por diminuto. Quis responder que não, que não queria ver o Manduca, e fiz até um gesto para fugir. Não era medo; noutra ocasião pode ser até que entrasse com facilidade e curiosidade, mas agora ia tão contente! Ver um defunto ao voltar de uma namorada… Há coisas que se não ajustam nem combinam. A simples notícia era já uma turvação grande. As minhas idéias de ouro perderam todas a cor e o metal para se trocarem em cinza escura e feia, e não distingui mais nada. Penso que cheguei a dizer que tinha pressa, mas provavelmente não falei por palavras claras, nem sequer humanas, porque ele, encostado ao portal, abria-me espaço com o gesto, e eu, sem alma para entrar nem fugir, deixei ao corpo fazer o que pudesse, e o corpo acabou entrando.

 

 

Não culpo ao homem; para ele, a coisa mais importante do momento era o filho. Mas também não me culpem a mim; para mim, a coisa mais importante era Capitu. O mal foi que os dois casos se conjugassem na mesma tarde, e que a morte de um viesse meter o nariz na vida do outro. Eis o mal todo. Se eu passasse antes ou depois, ou se o Manduca esperasse algumas horas para morrer, nenhuma nota aborrecida viria interromper as melodias da minha alma. Por que morrer exatamente há meia hora? Toda hora é apropriada ao óbito; morre-se muito bem às seis ou sete horas da tarde.»

 

publicado por adignidadedadiferenca às 19:34 link do post
13 de Agosto de 2010

 

 

E, com mais este capítulo, continua a saga em busca dos discos de verão um tanto ou quanto esquecidos. Eis, então, a oportunidade para recordar dois óptimos exemplos das consequências trazidas pela descoberta e abertura, em meados da década de 90 do século passado, da arca do easy-listening. Entre autênticas velharias que nunca deveriam ter saído da sucata, pequenos e esquecíveis fait-divers ou meras curiosidades descartáveis, o que ficou e valeu realmente a pena foi a recuperação de algumas belas antiguidades, indiscutíveis preciosidades que, onde menos se esperava, provocaram subtis rupturas estéticas com o paradigma sonoro da época, as quais não deixaram simultaneamente de cumprir a sua função de música refrescante para o solstício de verão.

 

 

O efeito bola de neve resultou e a segunda metade da referida década trouxe alguns belos exemplos de «música para arrefecer temperaturas» como foi o caso, por exemplo, de Gemini (de 1999) de Sven Van Hees e de Whiskey (de 1996) de Jay-Jay Johanson. O primeiro transporta quem o escuta directamente para o paraíso de uma ilha deserta, meditando sobre coisa nenhuma sob o efeito crepuscular de lentas vibrações electrónicas de matriz «jazz com gin tónico». O músico sueco oferece um registo crooner inspirado no encontro de Frank Sinatra com o drum'n'bass, cujo resultado abraça delicadamente um cocktail de bossa nova com sabor a mentol, Portishead estaladiços e melodias alcoolicamente melancólicas que, ainda hoje, ajudam a passar este verão e, pelo menos, o que há-de vir.

 

 

Jay-Jay Johanson, "I Fantasize Of You"

 

Sven Van Hees, "Ocean Jive"

 

publicado por adignidadedadiferenca às 23:41 link do post
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