a dignidade da diferença
28 de Maio de 2010

 

David Underwood, professor de Humanidades e História da Arte no St. Petersburg College, na Flórida, procura, neste livro, «dissipar uma concepção corrente da crítica, a de que a contribuição da obra de Oscar Niemeyer para a arquitectura moderna tem um carácter essencialmente formal. Para isso, analisa os variados contextos com os quais o arquitecto trabalhou – físico, cultural, político e teórico, entre outros – e que elucidam intenções e sentidos por trás de suas inovações (*)».

O autor compara a obra de Niemeyer, e sua muito particular utopia da beleza, com as mais relevantes realizações de forma livre do pós-guerra na Europa e na América do Norte e, sobretudo, destaca «a evolução de um traço distintamente brasileiro da forma livre, que exalta a plasticidade inerente da curva nativa ante a rígida postura rectilínea do Estilo Internacional (*)».

Um belíssimo trabalho sobre a visão estética e o percurso persistente do grande modernista brasileiro, o qual justifica uma leitura atenta, merecendo igual destaque as fotos de Marcel Gautherot.

 

(*) Da contracapa do livro editado pela Cosac & Naify.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:15 link do post
23 de Maio de 2010

 

O Estado Social é, para quase todos nós, aquilo que Kant designou como um imperativo categórico. Contudo, quanto mais intervencionista é o Estado, mais a legislação em que essa ambição se traduz transfere para a Administração Pública o poder discricionário. São os chamados custos democráticos.

A verdade é que passamos uma vida inteira à procura da receita para ultrapassar os problemas que nos são colocados diariamente. Quase nos apetece adoptar o pensamento de Nietzsche e afirmar que «não há (nunca houve) progresso algum. Não existem soluções milagrosas. Geração após geração, o ser humano procura encontrar resposta para os obstáculos que lhe aparecem, mas a verdade é que os problemas que lhe surgem são sempre os mesmos».

Saldanha Sanches, falecido no passado dia 14, volta a colocar o dedo na ferida, no que diz respeito à função social do Estado, quando questiona, no seu último artigo – publicado no semanário Expresso de 15 de Maio – e com a lucidez habitual, qual a utilidade das medidas para reduzir o défice, quando as mesmas assentam, sobretudo, no aumento das receitas, não existindo, aparentemente, qualquer preocupação em cortar na despesa pública? Passo a transcrever:

 

 

«Em qualquer caso, a justiça fiscal é uma questão que não se coloca só do lado da receita pública. É também muito provável que o esforço financeiro venha a atingir a segurança social, as pensões, as reformas. Ora, de nada serve aumentar o IVA, ou tributar mais-valias, se o Estado continua a esbanjar recursos. No esbanjadouro são muito claros dois tipos de papa-reformas: as obras públicas desnecessárias e os papa-reformas em sentido próprio. O Estado (o Governo, o primeiro-ministro) vive agrilhoado a um conjunto de compromissos políticos, arranjinhos, promessas, vassalagens, dívidas que paga periodicamente em quilómetros de auto-estradas, túneis e, agora, em TGV com paragens em todas as estações e apeadeiros do poder local (desenhado em cima da mapa da volta a Portugal em bicicleta). (…) Além das vassalagens, não podemos esquecer os outros papa-reformas, profissionais da acumulação de reformas públicas, semipúblicas e semiprivadas. (…) Tudo isto, como sempre, é feito ao abrigo da lei. É que isso dos crimes contra a lei é para os sucateiros. O problema é que a lei que dá é refém dos beneficiários que tiram e da sua ética».

Agora, pergunto eu: quem tem a coragem de mudar, de uma vez por todas, este estado de coisas? Ou vamos continuar, eternamente, em busca da receita para ultrapassar a crise e os problemas que nos trouxe? Os mesmos, no fundo, por que já passaram - com as particularidades próprias da sua época, evidentemente - gerações e gerações de seres humanos.

 

Brevemente: Discos que nunca mais se esquecem

publicado por adignidadedadiferenca às 02:05 link do post
21 de Maio de 2010

A soberba "Afraid Of Everyone" é, para mim, a melhor canção de "High Violet", o mais recente trabalho da banda de Brooklyn e, quiçá, a melhor da sua brilhante carreira. Apenas com o fundamento de satisfazer a minha curiosidade, os "nationalistas" convictos podem, se quiserem, votar aqui na sua música preferida. E, obviamente, os restantes, i. e., os menos "esclarecidos", podem eleger a pior (para eles) canção dos National.

 

 

publicado por adignidadedadiferenca às 00:16 link do post
17 de Maio de 2010

 

O conde Lev Tolstoi narra, nesta pequena e muito bela obra – escrita entre 1852 e 1862 -, as vivências de Olénin, um jovem desencantado, que se junta ao exército no Cáucaso, em busca de uma nova vida afastado de Moscovo e dos seus antigos amigo, sentindo-se atraído pela beleza da natureza e da sua paisagem e pela sua nova paixão: Mariana.

Cossacos é uma pequena obra-prima que Tolstoi terminou aos 33 anos, a qual antecedeu os sublimes e imortais Anna Karénina e Guerra e Paz ou esse extraordinário Hadji-Murat, novela que se manteve inédita até à morte do genial romancista russo.

Cossacos é mais uma notável prosa de ficção de Tolstoi, para a qual o escritor usa a sua original, universal e transcendente aptidão artística, arte essa que se traduz na forma harmoniosa como conjuga no mesmo verbo romantismo e realismo (mais uma vez, encontra-se neste texto a sua procura obsessiva da verdade), a perfeição formal da sua escrita acompanhando notavelmente o ritmo cardíaco do leitor e, sobretudo, a riqueza polifónica das suas personagens, assim como a deslumbrante estrutura musical que jorra da sua imaginação criativa.

Introspectivo e sensível, escultor e romancista, apaixonado e idealista, Tolstoi surpreende-nos sempre com a sua formidável poesia e inabalável crença na construção de prodigiosas, felizes ou devastadoras personagens. E fica a certeza de que já não se escrevem romances assim: prosa de uma beleza transparente, por vezes rude, mas sempre viva, acompanhada por uma construção colossal e em constante movimento.

 

 

Brevemente: O último artigo de Saldanha Sanches

 

publicado por adignidadedadiferenca às 01:00 link do post
09 de Maio de 2010

 

Amanhã, 10 de Maio (segunda-feira), é colocado à venda High Violet, o último e aguardado disco da banda indie norte-americana The National.

Depois da intensidade eléctrica do magnífico Alligator (2005) e do sublime Boxer (o mais belo e poético álbum de 2007), os National estão de regresso. Por aquilo que me foi dado ouvir, e segundo rezam as crónicas, o novo álbum combina na perfeição a matriz eléctrica de Alligator com a poesia de Boxer, acrescentando uma superior estrutura orquestral que, contrariando quem pensava já não ser possível, transforma High Violet numa obra ainda mais madura do que as anteriores e com um requinte instrumental absolutamente dorido e avassalador.

Fica a pergunta: Disco do ano?

 

 

Vanderlylle Crybaby Geeks

 

Próximo post: Cossacos de Lev Tolstói

publicado por adignidadedadiferenca às 00:56 link do post
02 de Maio de 2010

 

Para quem pensava que o problema da Igreja era só a pedofilia, aqui vai mais uma acha para a fogueira, retirada do semanário Expresso, de cuja notícia deixo um breve, mas significativo, resumo.

 

«Dentro das malas [com o arquivo completo das finanças do Vaticano e, em especial, do Instituto das Obras Religiosas (IOR)] estava o arquivo pessoal de monsenhor Renato Dardozzi. A sua especialidade era evitar que assuntos financeiros degenerassem em escândalos. Sob o título Vaticano, S.A., Gianluigi Nuzzi reconstitui num livro parte do que aconteceu entre 1980 e 2000. A revelação mais importante é que foi constituído um IOR paralelo que chegou a movimentar € 270 milhões. A rede paralela terá sido criada por monsenhor Donato de Bonis, já falecido, prelado do Banco. Os documentos do arquivo incluem cartas do presidente do IOR, Angelo Caloia, dirigidas ao Papa ou ao secretário de Estado, alertando para as ilegalidades que ia descobrindo. Numa delas afirma que os títulos emitidos pelo IOR reflectem pagamentos ilegais a políticos, com montantes que depois lhe foram devolvidos limpos. A partir do arquivo e de outras fontes, Nuzzi reconstitui a existência, no IOR, de contas bancárias de Vito Ciancimino, o já falecido presidente da Câmara de Palermo, condenado pelas suas ligações à Cosa Nostra. As cartas do alarmado presidente do banco do Papa referem os nomes insólitos dos titulares das contas pelas quais passava dinheiro sujo: Mamã de Bonis, Luta contra a leucemia, Missas, Meninos pobres, Manicómios».

Ler também aqui.

 

publicado por adignidadedadiferenca às 02:07 link do post
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